quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Uma cuspidela no meio fio, e um olhar frio até as estrelas, que muito mais sóbrias do que ele, brilhavam ainda embriagadas de luz, o fez perceber que ele precisava de uma conversa. Deu mais alguns passos extravagantes e tortos até quase cair sozinho, em uma rua anônima numa cidade anônima. Aquela rua e aquela cidade estariam prestes a se tornar um deserto pessoal para o nosso homem, ali de pé em meio à rua, que duvidava de todas as coisas nessa terra. Bario Neni Toiro estaria prestes a se tornar um falso João Batista, clamando num deserto apenas dele. Bario Neni Toiro necessitava, todos os dias, mas acabara por perceber naquele momento de doença e inexatidão, que precisava ver-se de outra maneira. E a melhor maneira seria ver-se, mas não havia nenhum espelho naquele momento.
Uma rua violenta e uma conclusão violenta a uma anedota de uma vida inopinadamente comum demais. Bario Neni Toiro viu, no meio da rua uma jovem, mais do que bela, ser assassinada por um grupo de possivelmente adolescentes, que provavelmente abusaram-na.

O homem na rua agora decidiu-se ver como a pior criatura da terra. Por pertencer ao mesmo grupo de assassinos que vira aquele momento. Ele também era um homem e agora havia visto o que estava de errado com Tudo, com ele, com o mundo todo.

Ele estava errado.




domingo, 8 de janeiro de 2012

A Soma de todas as coisas é a vida.

Imortal e imaculado é o Éter que,
acima de nossas cabeças,
às vezes chega ao nossos pulmões humanos e octogenários,
e faz-nos tossir,
confundindo nossas sensações,
dando-nos vida
com um sopro, sob nossos cabelos
e nos derrubando de nossa torre de Babel.

E falamos línguas estrangeiras e excêntricas uns aos outros, e causamos mortes e damos luz à ideias.

Espírito de Época.

"O poeta é o cão de seu tempo."



Espírito de Época.

A inveja e a mordaz preguiça,
o desejo da falta, e a busca pelo vazio,
desalocam e substituem a Cruz,
que num quarto isolado
escreve suas verdades para homens de barba,
uma alva e áspera barba,
que são velhos no peito e eternos jovens na alma.

Anciões que guardam, à lança em mãos,
seu quintal e seu mundo, resignando
e proibindo-se do desconcerto e desterro
desse nosso mundo desnudo.


Mas estes homens morrerão.
Como eu morrerei, desajustado,
por ser um cão magro e de dentes moles,
que guardou o seu tempo,
invejando as eras que nunca contemplou.






quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Discurso.

-Me pergunto se o castigo do homem não é ser homem. Me pergunto se o castigo do homem é, aliás, ser. É o castigo do homem, fazer parte de um todo ? Ou comandar um todo ? O Castigo do homem, é saber o seu castigo, é ver com seus próprios olhos, espelhos de sua alma, que é um homem. Somos castigados pela inteligência. Nosso algoz e carrasco é o próprio Saber

-Não há castigo para o homem, Soros-Minha voz sai estridente no campo vazio da noite musical de Londres. Falamos o bom português, língua sonora, de emoções- Há apenas o presente e os copos de Gin. O que existe entre essas coisas são apenas preenchimento inútil.

-O presente ? Que presente ?

-Esse presente, esse exato momento.

-Você ia bem com ser discurso. Pensou que não me senti maravilhado com suas palavras anteriores ? Claro que sim. Esse exato momento ? Que exato momento ? Não se pode dizer "Estou no presente" pois o presente é um ponto na linha de tempo. É figurativo demais. As únicas coisas que existem no tempo são o passado e o futuro. O presente não é nada.

-Ora, não é nada ! Que seja conveniente então ! Vivemos no Nada ! Pra quê buscar ? Qual o sentido destas coisas ?

-Há um sentido, e ele está na sua frente. Bom, não por agora, os copos de Gin me cansaram. Esse bar me cansou. Londres me Cansou. Até mais.

A súbita despedida de Soros me provou que eu estava errado. Soros teceu um excelente fio de raciocínio apenas saindo sutilmente do bar em Londres. Me deu em muito do que pensar sobre o sentido da minha vida inútil, e esse foi meu castigo. Foi dele um dia, e se de minhas carnes uma prole sair, desta geração será o castigo também...
Amen....


O Filósofo

Vértice da vida,
momento essencial de idéia essencial,
pulsam os corações, que se mancham desta idéia,
e formam esta marcha,
uma marcha de homens torpes e embriagados.

Rasga no céu o sorriso de Deus,
e as brisas, assopradas por gigantes,
me encaminham a garganta da destruição,
da vida, dos dialetos e da Existência :
Sou pequeno e confuso demais.








sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Trágica Marcha

Frígida e pálida está a face da terra,
e caloroso e rubro está o rosto dos homens,
de olhos cerrados e fadados ao não ver,
tateando e não sabendo.

E as águas das correntezas de lágrimas,
atingem o peito de Deus, e a inércia,
deixa o homem que sorri sem destreza
e ele não olha mais ao Olimpo

Mas Minerva ainda olha pelos homens,
com olhos agora repreendidos
mas cerúleos de sempre.





domingo, 20 de novembro de 2011

Ao arrependimento e à musica

Entre os sussurros e as peças musicais,
e a valsa voluptuosa, virtuosa e viciada,
do baile de máscara dos meus umbrais
e da minha alma invertebrada,

Nos capítulos primeiros do Gênesis
em que meu propósito é feito:
a confusão e a mimesis
estou eu, no de Gaia o leito,

Vivo, como um morto,
e coisa ou ação que sou
vangloria-se do meu ato torto,

De imaginar pra onde vou.
Minha Redenção de mim exorto
e choro pela minha vida, que ainda não me matou.




quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Incongruências

"A vontade de falar me corrói as carnes, de me expressar de dizer ao mundo qualquer coisa, talvez cheia de amargor e da falta de solidez de sempre. Hoje percebo que a melhor coisa que eu posso dizer, ou que disse em uma entrelinha qualquer é : Cale-se"

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Carta do Sr Terry Gilian, à um casal de senhores que desconhecia, mas admirava.

"Tudo se resume na morte, não é ? Observo te dia e noite, caríssimo senhor e caríssima senhora, e a cada janela aberta que deixa entrar os sorrisos de Boreas e Zéfiro sutilmente em uma manhã qualquer banhada pelos raios de sol, a cada piscar de olhos que revela novas e novas experiências a ti...Eu o observo, homem. E o invejo, em minha redoma de mim mesmo, que nada consegue imaginar, que pensa apenas movimento por um arreio de opiniões minhas, com apenas os meus olhos, não posso, diferente de ti olhar com os olhos de um rouxinol, ou com olhos de Valquíria, nem muito menos imaginar vidas e organizações de criaturas fantásticas, e principalmente não consigo temer a Morte ! Eu, que não sou volátil como todos pensam, eu vejo a morte de um jeito específico. Mas não consigo nem ao menos supor ou imaginar ou desejar pensar de outro modo.

Sou louco, meus queridos senhores e senhoras... E invejo todo o incômodo de ser São."



quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Velho Diálogo

"O Mal é sempiterno e constante, mas há hoje, e não há tanto tempo, um novo tipo de mal que assola a nós, os homens. Nem eu mesmo sei, filho, quando esse modalidade ( ou porque não um método?) de mal se decidiu a começar a pulular nas almas e mentes de indivíduos que, inegavelmente tinham ambas estas coisas em um estado e natureza racional. Antes, ou talvez não, de me questionar por quem ou por que este mal é causado, lhe digo que isto não é assunto ou interesse desse casual diálogo, comigo em frente a ti e os dois em frente à essa escura mesa de mogno. Não, a força motor de nosso grande mal permanece mais do que oculta e inconspícua, e é de minha opinião que o caráter oculto e muito discreto desta força é, inegavelmente premeditado[...] Falemos então de sua Natureza ! Opaca e ao mesmo tempo com um brilho que, à um olhar inexperiente, lhe ofusca a visão. Sim, dos paradoxos vive essa Filosofia, pois em um paradoxo aposta toda a sua visão cosmológica. Esse Mal, diferente dos outros tipos de Mal, não busca distorcer o bem, ou fazer o Bem ser de sua maneira. Não é como o péssimo músico de uma orquestra, que acaba com as notas, timbres e tons, acrescentando seus extravagantes extremismos e ,em outros momentos, um estranho ascetismo em uma bela e evocativa música ou canção. Na realidade, e não podia ser de outra maneira, esse Mal é um excelente músico, que simplesmente odeia a Música. E nada mais é preciso ser dito sobre sua natureza..."

domingo, 16 de outubro de 2011

Um capítulo solto.

Entre os tortos tijolos do mundo,no meio da vida e no fim da morte,está caminhando uma inteligência,que passa assoviando e ao seu redor,não vê nada passando.

É feliz e canta. Pára e escreve uma poesia,ri dela, ri de si mesmo, e olha para o seu próprio céu furado,e pensa como são boas as coisas simples da vida.

E é o movimento que o mantem ativo
Rindo de tudo e de si mesmo.
Ele escuta a música da verdade, e está feliz...



História

Filhos da Terra, Filhos de Deus
Pais dos povos
e no constante caminhar
pisamos em nossos estudos e andamos,
ao ver e cantar os mistérios de tudo.

Ah, como o homem em sua falta de condição humana vê a terra
e a canta com louvor.
E lutamos as guerras e a história, peça a peça
homem a homem unimos com a prepotência
que combusta nossa potência...

Homem deus, divino homem.



domingo, 2 de outubro de 2011

Esquizofrenia

Dizem-me que acredite em mim.
Eu acredito mais do que tudo, em mim
pois em nada mais posso crer.

Eu estou bem ? Não. Mas posso imaginar que sim.

Não fui nada. Não sou nada...
Sou orgulhoso disso, sou orgulhoso por não ser nada e quero a cada dia mais ser nada. Me imagino, posso criar todas as coisas.

não há o meu Dies Irae, eu o posso dizer isso.

( o autor destas palavras morreu a 1978 crente de que nos salvaria de nossa terrível condição)
Piada sobre piada nunca dá certo. E quando eu tento também não fica tão bom assim. Mas vamos lá.


"Havia um homem com uma grande piada a ser contada.E ele correu todo o mundo para contá-la. Ele se encontrou com um mendigo, um arruaceiro pedófilo, que salivava muito, muito mesmo. O velho fedido e babão não entendeu a piada. O homem a guardou por toda a sua vida. Se casou, teve um lindo filho, que se drogou quando jovem e teve uma namorada, a qual espancava muito ao saber que a mesma o traía com outro homem, que talvez, por sua inteligência fora do comum, entendesse a piada do primeiro homem. Pena que morreu. Assim como todas as pessoas desta história morreram, uma hora ou outra isso ia acontecer mesmo..."


sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Titonomaquia

Em meio a obscuridade do pensamento sapiente das nuvens
num céu arrebatado pelo flagrum divino
num céu desgastado pelas rugas de Deus
na Odisseia dos ventos e lanças titânicas
vemos a inteligência do homem a deduzir livros e bibliotecas.

Dúzias e centenas de seres estão girando longe da Roda Rósea das Almas
E mais centenas e dúzias, as mesmas centenas e dúzias podem quando quiserem
vê-la...

E observá-la, nada mais, é meu desejo
ver, apesar de ter pressentido,
que a mesma gira em seu eixo
Pelo Amor Primo e Benfazejo.
Milhares de vezes seu cantar eu já havia ouvido
mas a cegueira no olhar deste cego,
cegueira de que nem mais me queixo
pois de me queixar já vivi
ao falhar o buscar daquilo que nunca vi.

De aliterações púnicas se fez minha vida
e esse fel que derrama destas palavras indicativas delas mesmas
não é mais amargo por falta de possibilidades...

A guerra entre os Titãs acontece
e os raios cortam com seus barulhos meu ouvido impúbere
colado à uma cabeça com ideias impúberes,
sou um inseto que observa a vida,
não de seu começo, mas de seu limiar e beirada.

Imaginando o que há, depois do eterno cair.




sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Tolices

Eu rio, é bobagem.
Escarneio de algo e esse algo nem se move.
Continua pairado no ar.
No seu ponto material, apenas sendo.
Em seu próprio riso interno
um rio eterno,
rio das coisas que flutuam neste rio...
eu rio do ser...


Meu sorriso tolo, se desfaz
Sou eu de novo.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Conto- Metáfora

"-Às vezes, meu caro, é o próprio mundo é que ferra com você. É natural. Não que seja tudo sem sentido, mas a realidade as vezes é cheia de problemas, e o melhor a fazer nessas horas e apenas olhar para o céu observando a sua fraqueza e colocar aquele velho sorriso enferrujado no rosto de novo...

- Tem certeza ?

- É claro que não. "



Eu era um cara perdido nessa terra de ninguém, não se preocupe em saber como eu fui parar aqui, conforme-se com o fato de que estou num lugar que nunca vi antes, mais especificamente, numa espécie de Canionn, bem grande para falar a verdade.
E conforme-se que meu nome não é importante, aliás, se conformar com o que se vê aqui é o máximo que você pode fazer ante as coisas que contarei...
Como disse, estava preso nesse Canionn, por motivos desconhecidos, e como qualquer pessoa faria, decidi andar, encontrar o "contato humano"

Caminhei por alguns minutos por aquele chão inusitadamente pedregoso demais, quente demais e ermo demais, onde a voz poderia ecoar infinitamente. Essa era a impressão que eu tinha do lugar.
Um leve declínio de terra naquela planície chamou minha atenção, e uma ideia boba se instalou na minha mente :

Se há uma saída daqui, ela estaria naquela direção

Parti para lá com certa alegria em meu coração, nem sei o motivo de estar sentido tudo isso, mas sei que sentia.
Ao descer, tudo parecia escuro, como se a noite chegasse de repente, me surpreendendo, ou melhor, nos surpreendendo, pois afinal, eu não estava sozinho.

Foi aí que aquele velho me encontrou, ou eu quem o encontrei. Até hoje não sei dizer o que aconteceu realmente ali naquela hora e momento. Ele olhou para minha face e para meus olhos e naquele momento, antes de eu falar alguma coisa, pronto para culpá-lo, ou culpar alguém pela minha falta de direção ele me disse exatamente o que eu já disse :


-Às vezes, meu caro, é o próprio mundo é que ferra com você. É natural. Não que seja tudo sem sentido, mas a realidade as vezes é cheia de problemas, e o melhor a fazer nessas horas e apenas olhar para o céu observando a sua fraqueza e colocar aquele velho sorriso enferrujado no rosto de novo...

- Tem certeza ?

- É claro que não.


Depois disso, um riso de uma boca desdentada ele se levanta e o mundo ao meu redor começa a ser destruído, pedacinho por pedacinho...

"tem certeza ?
não
tem certeza ?
não"

O som dessa frase ecoou em minha mente enquanto via a destruição total do mundo à minha volta, apenas eu restei, agora bufando, em uma cama, suado:

Havia acordado de um sonho incomum, agora com uma mensagem gravada na mente.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

O idiota

Busco pelo o que não me corresponde,
na busca pelo impossível, pela verdadeira poesia,
sou um idiota, que sonha demais.

Minha alma suja, e meus olhos,
tudo o que sinto é apenas imagem,
passada pelo meu espírito que maculou sua natureza verdadeira.

Em versos desmancho minha confissão,
um palhaço, um bobo,
que sente prazer em ser um idiota.

É necessário ser esse idiota.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

E ao pó

O dia chegará e ninguém mais nos cegará,
quando repousarmos e jazermos debaixo do chão,
aquele que não sabe, eis que saberá,
o que disse Sim, aprendera a ouvir o Não.


Pouquíssima coisa podemos.
Lembrem-se, podemos menos ainda com a morte



O invencível Borges.

I-Uma breve apresentação do dia e do homem ilustre daquele dia.

Borges acendeu luminosamente seu cigarro de filtro amarelo num banco de praça comum, numa cidade comum.
Borges era um homem incomum. Chupou com força o cigarro, cuja ponta se avermelhou e nesse instante os cancerígenos atingiram seu pulmão octogenário.Porém, Borges tinha aspirações juvenis demais pra um pulmão tão velho.
Duas tosses, uma ajeitada em seu terno de linho preto que repousava debaixo de um sobretudo cinzento.

Cinzento era o dia...Com nuvens obscurecendo as cabeças de todo mundo debaixo de céu, inclusive Borges, que era apenas um homem.
O sol iluminava as calçadas com seus calhambeques e pessoas apressadas à caminho de seus ofícios, ou casas, ou quem sabe, pois afinal, que se pode dizer sobre a alma pelo semblante ?

II- O cigarro de Borges

Alguns passos à frente de seu banco, atravessando à rua e o cigarro ainda na boca. Uma buzina, um carro em alta velocidade, o velho Borges grita e o cigarro cai no chão, liberando suas cinzas flamejantes.

O corpo flácido de Borges cai na rua, massacrado pelo capô de um Rolls Royce 1930, cuspindo seus fluídos. Um homem incomum, fumava um cigarro, pensando em si mesmo, num ato de malícia, saiu confiante de seu banco com uma risada ecoante pela alma, quando atingido por um carro que fez questão de lhe quebrar algumas costelas e, pela força do impacto, arrancar seus olhos que jaziam agora perto de seu cigarro.

Carregaram o corpo. Ninguém se importa.Ele morre.

III- Alguém que se importa.

"Eu te amo"

Estas palavras atingiram o pobre ouvido do jovem Borges numa primavera de 1912, de uma jovem como ele.
As palavras criaram raízes na mente fraca e cheia de necessidades de nosso Borges, que de um momento para cá não tinha nada, e agora tinha pouco.

No seu ter pouco Borges imaginava-se como o maior sultão.
Ele tinha a paixão de uma jovem, tudo bem, mas Borges agora queria o mundo todo.

IV- Diário



"E tu és apenas uma pessoa que anda
manchado das coisas da vida e de sua própria sujeira
Você nos decepcionou a todos,
filho, o que Fizemos ?
Na música, que é cada ato seu,
a cada nota, a cada passo
você passa
e exala
sua presença.

Tudo o que fez está feito
e tudo o que foi feito vai passar
e o tempo há de trabalhar
para todos, isso é certeza.

Mas pra você é um talvez.


Que fina essência,
que proparoxítona
que paradoxo
que alta infecção octogenária poderia lhe descrever melhor ?

Você tosse, doente
e eu olho o sol
poente. E sorrio como quem vê o sol nascente
Você tosse
e sorri também...

E sol (poente) queima nossa pele, pois vivemos juntos.
Próximos. Apesar de tudo parecer distante.
O Céu e as estrelas
o Amor
a fé, o conhecimento e o sofrimento.
Eram longínquos

Foi um rei, foi um assassino
foi tudo e o que poderia ser tudo,
lutou para ser o Nada e nada conseguiu

Eu sua gênese, ah, Eu me lembro...

Brotaste como a mais bela das flores.
Do nada...
Do mais sujo lodo,
no mais belo jardim
numa noite estrelada
em que os furos no céu
e seus irmãos riram-se todos,
e o primeiro dos gritos do mundo foi ouvido até na outra borda do salão."


Borges se Imaginava como poeta. Mas não o era. Se imaginava como um deus artista e compôs essa canção para ' o resto dos homens ' ,em seu diário, como costumava nos chamar. Os homens comuns, sem nada. Perto dele, mero pó.
Borges cresceu, nunca amou ninguém, sua arrogância pelo resto de nós cresceu mais, um carro o atropelou, e nem no momento de sua morte, Borges viu que era um homem.
Nós vimos, eu pude ver. Suas tripas e seu sangue eram monumentalmente humanos, assim como o cheiro.



quinta-feira, 14 de julho de 2011

Vaidade

Vãos tempos que são os tempos dos sãos.
Vai o tempo de quem admirava o tempo.
E sai da cena de um teatro insano, nossa fraqueza real,
e no palco, que (não se iluda) é a nossa alma,
entra dançando, um Bobo, cria de Dite que em nós inflama a mentira
que queima nossas entranhas e nos consome num prazer efêmero e irreal.




quinta-feira, 7 de julho de 2011

De que seve a loucura, de que serve as insanidades ?
De nada servem à quem vive.
O Mar da razão é mais tempestuoso do que o da loucura.
Como tudo nesse espaço de relógio do universo,
desgraças são maiores que as bem aventuranças...

Superfícies

Os vapores exalados pela manhã do dia,
pelo andar do universo e suas estrelas,
pela beleza da natura em sua perfeição,
as sombras e as essências das coisas,
não são nada comparada ao Deus que em mim está,
à centelha de Sublime que permanece nas almas dos homens,
e me faz cantar ao contemplar às obras que não são minhas,
e na busca do saber é triste.Mas verdadeiro.

O mundo é belo.
A vida e o milagre da existência se abrem ante mim
e meu espírito se abre em consonância á minha boca,
que de poesia têm ânsia.

Sabemos pouco mas somos muito.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Simples

Simples.
Eu busco ser Simples. E as Ideias de Simplicidade em minha mente se acumulam como a sujeira das ruas mortas e escuras, em dias de torrencial tempestade.
Minha alma é esta rua Morta.Sem nada passando, só o preto de seu piche, o vazio das pessoas que não estão realmente lá.
Não há ninguém em minha alma desértica. Talvez um andarilho perdido, que com sede, morre lentamente, mas ainda sim anda e resiste. Porque andas, nobre andarilho ?
Este andarilho poderia salvar o deserto.
Mas o deserto da minha alma mata o andarilho.
A Esperança é sufocada pela sua sede. Falta-lhe a vida para preencher suas urgências.
Busco ser simples.
Apenas busco.

Os novos homens

Os Homens Novos estão a povoar a terra !
Com sua promessa de Felicidade. De otimismo !
Com suas falsas Verdades, que nos aprazem !
Com suas mensagens de salvação, sem labuta,
sem Nada.
Não a Filosofia ! Não às Leis !
O homem novo irá transformar tudo em Nada.
E o nada é mais feliz do que o Tudo :
Máquina de repressão de um Transcendente Tirano...
O Tempo faz me esquecer dos amores que tive.
O Tempo me curou da minha crise humana
Não, o tempo não é nada.
Nada do que o tempo faz significa alguma coisa.
Nada passa. Tudo fica.
Impregnado em nossas almas.
Colocado lá por nossa natureza.Nunca saem.

Sempre presentes a nos infortunar...
Mazelas humanas, porquê escolhemos a isso ?




segunda-feira, 20 de junho de 2011

Metafísica

(desconforto)
Anda o homem pelo o que chama de tempo,
(desconforto) uma lua ? Porquê ?
(desconforto)Porquê, Porquê ?

Os propósitos da coisas se mostram ao homem
que desconfortavelmente segue sua caminhada.
Ele caminha, ( desconforto) e mais perguntas
mais do mesmo desconforto a lhe avisar:

"SOMOS, SOMOS, TU ÉS"

Hoje anestesiado por si mesmo o homem sente o desconforto
E não faz nada.

Tudo morre ao seu redor, menos ele.

domingo, 19 de junho de 2011

Salmo

Contemplem homens
contemplem todos,
o Amor que move os céus,
a terra e as estrelas
pasmem diante da verdade,
que lhe dará seu corpo,
vocês à possuirão
a amarão,
e no final compreenderão.

Se transformem em verdadeiros Poetas.
Curem-se

sábado, 18 de junho de 2011

Confissões do Mundo

Ouço as confissões do Mundo.
Dentro do meu coração,
que as refletem,em duplicata.
Seu choro permanece, ninguém é são,
Confissão que fere e mata,
Sublime, grotesca, de alguém Moribundo.
Ao morrer eu percebo o mundo também a morrer,
e vejo, apenas vejo e o medo sem esperança,
o medo está lá.
Nas cabeças de senhoras,
no brinquedo da criança,
que pasma o mundo sem se importar.

Sábia criança... Pudera eu não me importar
Pudera eu apenas ver. Só ver e contemplar
Quisera eu ser um Poeta Verdadeiro
Um poeta sem o desconforto.
Um poeta sem a metafísica a lhe cutucar
avisando a ele que ela está ali.
Maldita minha poesia, que contempla e se importa
maldito o poeta, que busca e vê pouco.
Maldito poeta Astígmata,
que vê e vê distorcido,
por isso busca saber...

Pudera eu ser apenas potência.
Pudera eu não ser nada.









domingo, 12 de junho de 2011

Crônica da Morte dos Idiotas Maus

Ok,Ok. Não me venham com esse papo.Esse lugar fedorento já está me dando nos nervos.Aquele miserável que me colocou aqui já está morto mesmo....
O carro com aquela sirene horrível e dolorosa passou vigilante em frente ao lugar onde eu me escondia paciente, mui mui paciente...
Fui preso à uns dois dias por matar um João Ninguém durante um assalto nas ruas frívolas de New York City, oh yeah, sim, méatei mesmo, mas o que que há ? O sujeito iria morrer a qualquer momento daquela sua vidinha de dono de mercadinho porto-riquenho. Fiz um favor à esta cidade imunda e fedorenta...

E mui paciente que estava, passei por alguns lugares de aparência sóbria e bem escura, onde pude me esconder e aproveitar o meu cigarro, ah, como eu amava isso.

E lá que me percebi rodeado de mais algumas pessoas, com a morte sob o luar. Suas vozes pareciam trompetes. Odeio trompetes.

Vieram com um papo idiote de Clube Amoral, tsc, grande bosta, entrarei para esta coisa...
Dizem que me escolheram pela minha maldade e insolência. Esses idiotas pra mim poderiam morrer agora mesmo.

Paramos em estabelecimento qualquer e eles queriam me testar, quanta idiotice, para provar minha capacidade tive que quebrar algumas garrafas em cabeças inocentes de donzelinhas de 14 e 15 anos, com seus esmaltes coloridos e músicas ruins...

Depois de alguma "diversão" como os idiotas costumavam chamar essa coisa de ser mal e um verdadeiro idiota, sabe ? Paramos no que eles chamavam de seu QG. Mais idiotice.

Os idiotas riam e riam mais, enquanto me irritava com sua arrogância.

O que aconteceu depois foi que eles morreram pelas minhas mãos.
Não pelas minhas mãos e sim por um cutelo jogado em uma mesa de seu QG idiota.

Sujei-os todos de sangue, deles mesmos. Pernas pra lá, olhos para lá, depois de alguns gritos sem nenhuma delícia musical, parei, descansei e meu cigarro queimava prazerosamente em minha frente.







quarta-feira, 8 de junho de 2011

Aquele pedaço de carne que talvez fosse sublime.

O relógio bate enquanto batem os martelos em meu cérebro que não pára de me chatear com as idéias confusas, diversas e idiotas mesmo que ele me passa.
Me cansei de olhar para as ruas e ver apenas merda.Vejo apenas merda. Aquela merda moral. Aquela negação de tudo. Eu me canso nos ver apenas negando, seguindo confortavelmente para a nossas casas.
Poderíamos estar por aí, desconfortáveis, olhando para o céus para dentro de nossos corpos impuros e enxergar a alma e tentar sondar os mistérios por traz das essências das coisas.
Sentar em cadeiras relaxantes ? Isto é para o homem moderno que não se cansa de se satisfazer sem ter que sofrer.

FALTA-NOS O SOFRIMENTO. FALTA-NOS O QUE NOS LEVANTAVA DE MANHÃ !

O terror, falta-nos isto. Não saber de nada. Correr milhares de milhas avante para o caminho do aparente do nada, chorar enquanto não tínhamos nada, sofrer pela nossa medíocre natureza humana, tentando melhorar. Não podendo. Sendo apenas aquele pedaço de carne, aquele pedaço de carne que talvez fosse sublime.

ONDE ESTÁ O TALVEZ ?

Morreu, como tudo morreu neste mundo. Está morto.
Tudo está morto.
E os homens não buscam mais nada.

E é o que nos restará.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Noite adentro.

Sentado nesta cadeira
com este pequeno caderno em mãos
com o sofrer por dentro
com a poesia noite a dentro.

É noite, e sob este manto
Soturno, eterno breu estou,
que paira no céu, eterno.
É noite e eu escrevo
É dia e eu escrevo
Na eternidade das coisas
enquanto tudo perdurar
minhas palavras pouco pensadas
de caligrafia escrachada
estarão impregnadas em folhas de caderno

Infortunadas e infinitas folhas
desgraçadas páginas.
Nelas há tudo o que sinto

É noite e esta ânsia de continuar revelando
esta vontade inalienável do gênero humano
que é, por escolher por seu livre(lindo, calmo) arbítrio
sofrer em buscas prazerosas e masoquistas

É dia, é noite, ou simplesmente é
O Meu Propósito é o propósito destes versos,
sem rima, sem propósito.
Sem nada.
Propósito, me deêm propósitos
e ainda apenas um será o meu propósito,
mesmo que me esbalde na beleza,
nos frutos de uma falsa riqueza,
meu propósito estará apenas nas mãos do Absoluto.
Não sei de meu propósito
É dia e enquanto me esqueço da vida
ela alcança um êxtase supremo.

Porém, eu sou algo.
E, inopinadamente para a existência das coisas em geral,
o Ser é.
Serei algo até morrer, onde não há certeza do não-ser.

É noite, e fito com olhos mortos e astigmatas,
uma contemplação.
No meu último ato de misericórdia, encerro esta poesia
mal rimada, mal entoada, escrito por um ser mal-feito.

Poupo-vos de mim
Poupo estas infortúnias
páginas de comportar-me.

( e sempre, a lua cai, é dia, por enquanto)

domingo, 5 de junho de 2011

Tolo, tolo, tolo. Tolo e Misericordioso.

O sotaque terrivelmente francês daquele doutor me irritava profundamente. Conversávamos em minha casa, e no limiar de nossas falas, assuntos fugazes alcançavam nossas mentes. Odeio este homem, planejo matá-lo em qualquer instante.Minha esposa jazia no fundo do mar, com algumas facadas.Este homem teria o mesmo destino.Permaneceria com a mulher que aproveitou, uma mulher roubada.

Ele levanta de sua cadeira, rindo de certa piada que contei.Me levanto, com a vingança espumando pela minha boca. Saco a arma. A arma se encarrega de matar o homem parado em minha frente.

Me sento.

Porque matei ? Porque tirei a vida de um homem ? Não seria maior castigo se ele vivesse ? Não seria maior pena se ele continuasse sua vida medíocre, de promíscuo francês (quase um pleonasmo) nas ruas de Londres ?
Como sou misericordioso... Ninguém entenderia é claro... Poupei-o de um castigo

Tolo, tolo, tolo. Tolo e Misericordioso.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

41 de nós

Enquanto toca a sua gaita, o homem de barba percebe os homens que vem para matá-lo. Poucos de nós restaram, e estamos por aí, jogados nas ruas. Exatamente 42 neste momento, e em alguns minutos seremos 41 de nós. Nós, os que andamos, distribuindo nossas palavras que antes alcançavam ouvidos de pessoas atentas, que gostariam de saber a Verdade.
Sim, somos nós, os que carregam a Verdade. Em nossas mentes ela está. E nada pode nos tirar dela, até agora.
Hoje, nem mesmo o vento, que tocava nossas faces enquanto caminhávamos, ouve as nossas palavras. Se o vento pudesse contar, a Verdade estaria com ele, e nós poderíamos dormir tranqüilos, sem o medo que nos assola toda a noite, desde que, em meados do século xxii a Verdade foi proibida.
Sem nosso propósito, fomos caçados, éramos muitos. Muitos de nós se converteram à nova moda, muito antes da proibição da Verdade, pouquíssimos de nós ainda não haviam-na confundido ou manipulado-a....
O homem que toca pela última vez sua gaita e que ostenta a obesidade digna de comédias hollywoddianas, percebe que a sua morte chegaria naquele momento, quando viu cerca de alguns homens vestidos de terno e gravata. Com o sinal da morte em suas almas e em seus olhos.
O homem barbado saca sua arma, eficientemente, matando três dos homens vestidos em terno, antes de ser eliminado. Calado. Silenciado.
Eu saio de minha casa, tentando pegar algum Sol, inspiração de outros tempo, onde pessoas como nós eram apreciadas.
Sinto minha respiração. O peso da Verdade em meus ombros. Me ajoelho e uma singela oração não sai de minha boca, apenas do meu Espírito.Me levanto preparado, carregando minha arma, com oito cartuchos.

Estou preparado, sentado. Ouço passos vindo de outro lugar da casa.

Quando vejo os corpos daqueles homens, incólumes diante de mim, me encarrego de fazê-los se deitar, em poucos minutos no futuros, esses homens conhecerão a Verdade, quando encararem a face gélida e sentirem as baforadas da morte em seus ombros, ombros leves, sem nenhuma preocupação. Defensores da ilusão...


Ainda somos 41 de nós. Por enquanto.



Poesia


O Poeta
No verso do verso
há sempre olhos atentos
De um sonho, rico tesouro
que mãos pequenas não seguram

No verso do verso
existe um guerreiro,
e seu sangue escorrido por tudo o que ama,
mas mesmo assim, não luta.

No verso do verso há um borrão na existência
um nada sem forma
um poeta.

Ladrão das emoções ocultas, alheias,
artista, rei das verdades meias,
Dono de um coração que não é o dele
Apenas mais uma auto-contradição


quarta-feira, 1 de junho de 2011

Separados e Vivos

Se eu estivesse em você, você não estaria em mim.
Se eu estivesse em você, meu veneno te aniquilaria.
Se eu estivesse em você, o vazio de minha alma mataria[-te te tédio.
Se eu estivesse em você, meus vícios provocariam-te câncer

Contudo, com você em mim,eu não me importaria de morrer lenta e dolorosamente.

E não é o que fazemos ?
Vivemos, esperamos e depois morremos...
A vida escoou pelas latrinas do tempo,
eu estava em você ?
Você em mim ?

E fomos dois corpos separados e vivos...
Fomos duas almas dispersas e por fim, felizes...










domingo, 29 de maio de 2011

Ruína

Minha ruína foi ter despertado naquele quarto, em meio à minha própria solidão.Sou um alguém vazio, cheio de tabaco e café no sangue, com preocupações fúteis sobre a vida e morte. É uma quarta feira e estou em meu quarto, nos sonhos e aspirações de outra pessoa, que certamente me ama, porém não me conhece ou nunca me encontrou antes.
Não falarei aqui sobre o que não importa: Meu nome, quem sou, a que gênero pertenço. Me veja como uma pessoa arruinada, apenas isto é o que importa...
Como as quartas feiras teimam em ser dias importantes em minha vida aparentemente
sem propósito, minha ruína aconteceu numa quarta feira fatídica no ano de 1976, enquanto
pesquisava não sei o quê, talvez mais um assunto não muito relevante ( críticas de Faust talvez ?) quando
caí em sono profundo, na cova rasa da meu ser.
Qual a importância desse sonho ? Não me lembro. Não me lembro ainda do próprio sonho, seu
conteúdo, as vestes que usou. Não me lembro se gostei do sonho. Não me recordo de eu estar no sonho,
não me recordo de nada. Só me lembro de mim. Recordando o nada...
Abri os olhos, observei a realidade, como quem ouve um rouxinol, e se apaixona. Ergo meus
olhos como quem contempla a Deus. No meu caso não era diferente.
Eu havia acordado. Desperto, com a vida engatilhada para o meu cerébro. Ela se põe incólume
em minha frente. Total, desgraçadamente, total e inefável. Vejo minhas mãos, quase em posição
de súplica, já fatigadas pela idade. Vejo como alguém que espera a morte.
Acordo. Eis aqui, minha ruína.
Sou arruinado, porque existo.

domingo, 22 de maio de 2011

Nostalgia no exílio da alma - Capítulo 2.

No alto da montanha é onde vivo, onde ninguém me vê, ou ouve minha voz. Posso contar a estúpida e ditosa história de minha vida curta, mas algo mais importante me interrompe nesse momento, em que recebo estranhas visitas, acho que são alemães, vestidos em belas armaduras, em belos Alasões que vêm perguntar...

"És tu o que veio para Trair e Mentir, és tu quem mataste teus próximos e arruinaste teu país ?"

Essa foi a pergunta, e é claro que eu saberia responder

"Muito prazer, mas o mais importante é : quem sois vós, destemidos cavaleiros ?"

Num instante, perco minha consciência. Noutro, estou com ela de volta, em outro lugar, de fronte a um rosto barbado e com ar de autoridade, em uma cadeira de madeira, com os dois cavaleiros ( alemães) ao meus lados...

Ao perceber o rosto do homem que me encara, eu tremo, talvez de uma estranha felicidade, mas o mais provável seria medo.Sim, o cavaleiro de coração Irascível também sente medo, e ainda mais medo dos mortos. E para mim, aquele homem deveria ser um homem morto.

E quem havia matado-o era eu, quando combatia sua Jyhad...
Sim, eu fui um Cruzado, e um Cruzado Honrado. Apenas nunca consegui ser alguém de compromisso com minha fé.

Minha bravura suplantava isso, como disse antes, traí os Cristãos porque queria lutar. Queria o sangue e o calor da batalha...
E é claro, os muçulmanos foram traídos por mim, quando venciam de novo a batalha.

E pelo que me lembro, o capitão das tropas islâmicas que me olhava no momento, já esteve com o fio de minha espada em seu coração...


Como que um raio suas palavras saíram acompanhadas de saliva, e eu ouvia atentamente à tudo

Contemplando fundo de garrafas

Posso saber o que está atrás desta mesa,
posso contemplar o mistério do que há dentro desta roupa,
consigo definir o que há dentro do reflexo do reflexo do espelho ?

Então porque escrevo ? Se minha tarefa é contemplar,
é evidenciar o mundo. suas sensações...
Como posso poetar, se o poeta me é estranho ?

Simulo um mundo
finjo emoções,
atuo sofrimento.

O mundo que aqui lhe apresento sou eu,
e nem sei o que sou, e se eu o soubesse,
o que saberia ?
Será que saberia ? Será que conheceria...


E a unica contemplação verdadeira é aquela feita ao fundo de uma garrafa,
a da loucura e do ébrio, a unica epifania verdadeira é aquela que se trata das mentiras...


sexta-feira, 20 de maio de 2011

Eu, a morte, e o pós-morte

Eu, a morte, e o pós-morte. Essa era a minha situação, no volante daquele Impala preto, à caminho do nada, numa estrada desconhecida com uma mulher no banco de trás, a mulher que amo, desmaiada.
Estou surpreso por estar vivo. E consciente...Tudo começou subitamente e poderia acabar subitamente .
Bom,na verdade, tudo já acabou, eu tento recomeçar... O maldito carro está quase sem gasolina, eu estou quase sem balas, e ainda existem algumas daquelas criaturas por aí, nas estradas.Não são bem criaturas, porque estão mortas, bem, não sei como chamá-las, só sei que os mortos deram para sair de suas tumbas, para matar mais gente.Não sei o que causou isso, só espero sair dessa vivo, se é que isso é possível.

Ao redor da morte, eu e minha amada, que agora está em meus ombros, caminho por pastos verdejantes ( enfim a gasolina do carro acabou), em busca de pessoas, abrigos, ou até lugares em que eu possa morrer em paz. Enfim encontro uma velha capela, onde posso descansar e colocar o belo corpo de minha mulher ao meu lado, em uma banco qualquer daquela igreja.

Ela é tão bela, tão simpática, pena que teve que ver o fim do mundo, pena que teve que passá-lo comigo, pena que foi atacada.
Será que é pena por ter sido salva ?
Ainda bem que ela está inconsciente, se bem que quase não sinto sua respiração.
Não, ela vive, mesmo que esteja morta, ela vive.

Comprovo isso enquanto ela me morde no pescoço, buscando minha carne viva.
Logo logo estarei com ela na eternidade, e nossos corpos na terra, devorando outros corpos.


Mistério

A água caía sobre meus ombros,
que carregam o sofrer de um homem comum,
toneladas de labuta, toneladas sem propósito aparente,
aparente, somos aquilo que a alma sente.
Minha alma sente apenas a morte.
Minha alma, mal sente.
Do outro lado da rua, a chuva atingia outra pessoa,
a morte estava em sua alma também.
Sua alma estava na rua, despojada,
molhada, arrebatada por um sentimento
que transcende o corpo, o tempo,
enfim, aquele homem amava...
Amava, não pela primeira vez, não na melhor das vezes
amava como quem captura um pássaro e ele lhe foge as mãos
mas mesmo assim, ainda há a esperança de recuperá-lo.
Ele se perdeu, mas iria se encontrar,
isso é o amar, se encontrar quando estar perdido
eu amei, mas não me encontrei.
Não
na verdade, nunca amei.

Caminho, flutuando, andando, pensando
vivendo, sendo, esquecendo, matando,
difamando, eu caminho. E no meio caminho,
os meios de minha vida, os meios dos meus fins,
vêm a tona, e tudo parece claro, na chuva, o sol me queima por dentro,
não aguento a dor, a dor de saber, o pungir da verdade.
Alcanço a faca mais próxima, acabar com minha vida,
com o sofrer, não queria contemplar o mistério.
Sem sucesso, eu morro, e o mistério se abre como uma flor na primavera,
diante dos meus olhos, tristes, vermelhos, enfim,
mortos.




domingo, 15 de maio de 2011

O relembrar traz apenas escuridão e ressentimento.Fui um fracassado, e no ato de fracassar mais uma vez, fracassei de novo.Fracassei, ao tentar fracassar a estúpida tentativa de ser eu mesmo.
Um vício que se impregnou em mim. O vício de ser. E não apenas ser, como ser eu mesmo.Nas montanhas em que vivo, observo os rochedos e contemplo minha consciência.
Os rochedos são menos intransigentes...


Nos meus anos de glória, eu lutava em nome do meu país.
Isso era uma completa mentira.
Lutei pelo gosto de lutar, meu coração irascível não podia exultar mais do que a guerra, quando pude trair à todos, eu os traí.

Tudo pela contemplação a bravura, coragem e ao furor das batalhas...


Desejos d'alma

Que deseja a alma mais veementemete do que a verdade ?
Eu desejo mais do que a verdade.
Desejo a verdade despida,
desejo-a nua, crua, inegável, infalível,
Mas não desejo apenas a verdade.

Minh'alma deseja algo que a verdade não é.
Só quero uma mentira,
quero uma ilusão,
desejo mais do que tudo,

Embriagar-me a ponto da verdade não importar.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Vitae

A lúgubre lua pairava no céu
De testemunho à vida do homem,
seu alumiar cobria todo o seu ser,
sua corrupção e seus amores,
sua vida e suas dores

Todo ele, por menos possível,
a lua brilharia, veria,
ouviria todo o seu cantar,
ignoraria o desespero de seu gritar,
e sorriria, enquanto te visse amar.

Do começo ao final, da luz à escuridão,
até a morte, o grán finale,
por um sonho, hoje adormecido,
onde a lua, o lume da dúvida,
dá lugar ao sol, que a Verdade e Virtude brilha.


quarta-feira, 11 de maio de 2011

Nostalgia no exílio da alma - Capítulo 1.

Me sinto culpado por tudo que fiz, enquanto vejo todos ao meu redor morrerem. Estamos sendo massacrados. Toda a esperança morreu, e com ela a vida vai junto. Sinto que meu lugar no reino do céus não existe.

Antes de ver a derrota final, tudo aquilo por que lutei desmoronado como um castelo feito na areia, peço perdão, em silêncio.
No silêncio de minha culpa, eu fui salvo.
Quem diria, que depois de morta, a esperança pode ser ressuscitada ?


Sempre necessitei de misericórdia.No momento em que lutava aquela última luta, mais ainda.


Mas isso foi outrora.

Hoje permaneço desconhecido, onde minha vergonha não me alcança, e meus atos nunca serão lembrados.
As palavras que saem de minha boca são ouvidos por poucos.Nunca permanecem no ar, depois de exaladas, nunca mais serão relembradas, ditas ou exaltadas...


O que deve saber de mim ? Sou um homem exilado. Procurei ser um exilado, primeiro, exilado na alma.Esquecer quem fui.Saber apenas o que serei.Depois, exilei meu corpo, partindo paro o interior da Espanha.

Nos meus tempos de glória, fui marido, soldado, amante, guerreiro e um homem conhecido.

Hoje sou apenas um decadente.Para muitos, morto. Remoendo uma vingança que talvez nunca aconteça.









domingo, 1 de maio de 2011

Darkside

"Minha sombra me acompanha desde então, nos meus sonhos, com as pessoas que conheço, em tudo"

Arfando e esbravejando, lá estou eu brigando novamente com minha esposa.Esse sou eu, não a minha sombra, que me ataca tenazmente, quando estou só.
Ela é boa comigo, me dá conselhos, me ensina como não ser.

A dor invadiu-me, ela estava vindo (matematematematematemate), sua voz estava rouca nessa manhã, a maldita consegue me dominar.

Parto para cima de minha amada esposa com os dedos abertos, prontos a alcançar seu lindo pescoço.Ela cai diante de mim, num desmaio belíssimo.
Alcanço a cadeira ao meu lado e atinjo o corpo desfalecido da mulher que me deu um filho.

A cadeira se quebra em pedaços, assim como as costelas de minha esposa.
Saio de casa, com cigarro na boca, marcas da briga em minhas mãos.Nenhuma culpa em meu coração.

Quando acordo desse pesadelo, estou em uma cama, com quatro mulheres.
Não é a primeira vez que isso acontece.Corro desesperado até minha casa.

Vejo meu filho, chorando, ao corpo de sua mãe, ela não sobrevivera.




Minha sombra me apodera desde então, nos meus sonhos, com as pessoas que conheço, em tudo


sábado, 23 de abril de 2011

Na companhia de mim mesmo- 9º e último capítulo - Uma ópera de delírios na mente de um homem sóbrio.

Uma última gota de tinta cai sobre a última página de um diário de couro vermelho sobre a grama verde dos pastos desabitados de algum lugar da América, enquanto a última gota de uma garra de uísque Jack Daniels caía sobre a garganta do último homem sobre a terra.O último, mas nem de longe o melhor deles.

Não era a primeira vez que isso acontecia. Numa noite de 2022, a última gota de álcool em uma bar de Las Vegas, escorria pela boca de um homem mal vestido que carregava uma arma em sua mão.
Notava-se a tristeza em seus olhos sujos.Notava-se a pequena ópera que ressoava em sua cabeça loura e cheia de ódio.

Os olhos escuros, sem nenhum sentimento, fitavam os olhos do barman, e nada precisava ser dito.

9 passos para o sul, Willhelm estava fora do bar, pensando o jeito mais fácil de matar a pessoa que mais amou na vida.
Sob seus pés, um jornal que lhe diria que ele não precisaria mais fazer isso.

Sob sua cabeça, o mundo pairava silencioso, prestes a terminar.


Uma explosão, todos deixam de existir.
9 passos para o sul, em 2070, e Willhelm está a beira de um abismo.



Willhelm caminha sóbrio, trôpego, com a loucura em seu pior e mais elevado estágio.Ele se vê entre os dois pontos de sua vida. Uma vida longa demais para uma pessoa como ele.

2022 - Uma mulher estrangulada é estampada num jornal de uma época moribunda.

2070-Esta mesma mulher entre duas rochas, encara Willhelm sóbrio.


Fruto de uma loucura que só a embriaguez poderia curar.
Willhelm sorri para a mulher logo antes de disparar alguns tiros ante a figura da mulher que um dia o fizera refletir, e depois, mais alguns tiros em sua própria cabeça, que tocava uma ópera confusa e dissonante.






Pequena Crônica


O Poeta e a vingança.

O que mais no caos interior do poeta poderia ser retirado ? O Poeta não sabia, mas mesmo assim, arrancava de seu ser todas as angústias possíveis.Ele estava cansado de falar sobre si mesmo, e decidira agir. Ele iria livrar o mundo do mal que o assolava.

Ele iria vingar a inocência de milhares de pessoas que morrem dia-a-dia.Iria limpar e concertar as coisas, já que seu espírito, ele não conseguiu desinfetar de suas paixões e vícios, não conseguiu, com rimas e amores, acabar com toda a solidão e mortandade de sua alma.

No começo, suas vítimas imploravam por redenção.O Poeta respondia que era justamente o que ele faria.Toda redenção começaria com a morte.A toda morte que ele causava, um poema em sua honra era logo cantado e escrito em pequenos bilhetes, ao lado dos mortos. Poemas simples, trovas pequenas.
Tudo aquilo que o Poeta desejava para si.

Ninguém esperava, depois de tanta vingança e tanta justiça, este poema, ao lado de um corpo sujo e pálido:

"A morte começa com a redenção.
Meu caso não é exceção
Eu me redimo, em tom de poesia,
De uma vida vadia e vazia"

E o Poeta jamais poetou, amou e se vingou.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Contra luz, pálida figura jaz em meus braços,
a falta de esperança, de vida, a falta de ti.
És uma como eu, agora, morta, por dentro e por fora.

O raio é não poder te amar e te ter.
A desgraça que se abate sobre mim,
não se abateu sobre ti.

Mais uma desgraça para mim, felicidade para ti.

domingo, 3 de abril de 2011

Mais algumas poesias

Auto-Sacrifício.
"Abdico-me.
Recuso meu melhor presente,
por não entendê-lo de todo.
Me sacrifico, ofereço-me todo a morte,
que venha, quieta e indolor."

Nós
Me faltam.
Sou algo, algo faltante.
Do nada resultante,
O tudo ausente,
o saldo devedor,
menos que um,
sou algo que falta,
um peso ao mundo.

E tu que és muito, me aceita como falta,
me completa contigo, e juntos somo nada.





sábado, 26 de março de 2011

Na companhia de mim mesmo- Capítulo 7 - Final do mundo no meio de um "Merda!"

7- Como está se sentindo ?

Essa frase ecoou pela mente vazia de Willhelm, fazendo-a doer bastante.
Willhelm estava sóbrio e conseguia ver apenas um teto sujo e pendurado sob ele uma lampâda de luz branca, invasiva, que lhe obrigou a cerrar um pouco os olhos.

- Está tudo ok ?

Essa outra frase pareceu um pouco mais clara para ele. Via um homem de avental branco, e no avental branco via manchas de sangue.

- Está se sentindo mal ?

Willhelm, abre sua boca e dela um som é liberado :

"Não"


Não se sentia mal. Não se sentia mal mesmo.Só não se lembrava qual o motivo de estar ali.
Ao ver rapidamente o médico pegar uma serra e se prepando para cortar uma extremidade sua, Willhelm apenas gritou, suas mãos estavam atadas.

"Nãããããããão"

Um mundo de dor invadiu seu corpo e de repente uma dor pior ainda veio.
Willhelm acordou de mais um pesadelo.
Acordar, como a maioria das coisas nessa época. Era bem incômodo.


O que era aquele sonho ?
Qual seu propósito ?

Não importa. Pelo menos para Willhelm. E muito menos para Willhelm bêbado.

Talvez tenha sido esse sonho que fizera Willhelm cometer seu suicídio, em algumas horas no futuro.
Um futuro que já aconteceu e agora é passado.


Pequenos ruídos de uma ópera antiga invadiam a mente de Willhelm, que carregava sua arma e fitava com atenção uma garrafa vazia de Jack Daniels. Uma garrafa que sobrevivera por mais de 12 anos, agora toda consumida.
Um caderno com apenas uma página faltante está prostrado diante de Willhelm.Willhelm está prostado diante de sua própria loucura, que só a embriaguez poderia curar...



No bar com o homem calvo, 2022 ele acordava do mesmo sonho.
Anos depois desse ocorrido, ele participa deste sonho.
2070, ele sonha e lembra do ocorrido.

Na guerra, homens se ferem.
Willhelm raramente era o caso, e não era o caso agora.
Certamente seqüestrado por traficantes de orgãos e/ou pervertidos, foi operado e perdeu um rim.
Acordou da operação tremendo em uma banheira com gelo, em um hotel de Las Vegas, onde foi encontrado por uma prostituta e seu amante.

Essa é o começo da história da prostituta:
Mais uma pessoa que passou pela vida de Willhelm. Uma pessoa que não passou despercebida.
Como Willhelm não iria perceber a mulher que consumia ?

O final da história da prostituta foi o início da história do homem calvo.
Dono de um bar. Sobre peso. Voz mansa e pacata.

Morreu, queimado pelas chamas nucleares que invadiram a terra, chamas que se esqueceram de queimar Willhelm, fazendo-o expelir um "Merda" de sua boca.


Manchado de sangue, roupas queimadas, e no meio da palavra "Merda", Willhelm contemplava o fim do mundo.

Em 2070, o mundo, manchado de sangue, no meio de um verão infernal, contemplava o final de Willhelm.



























Ps:Ainda não é o último capítulo...




sexta-feira, 25 de março de 2011

Tabaco


A dança da fumaça azulada no ar,
me lembra a essência de minh'alma,
as danças de minha razão, as doenças que posso causar.

Lembro-me do consolo que posso dar,
o vício que posso ser, a destruição que posso impelir.
cousas que não posso impedir,
a distração, que há de te matar.

Mas morre bem, morre bela.
Morre em minha poesia,
morre em minha fumaça.
Morre em minh'alma, que queima lentamente,
expelindo sua fumaça no ar...

domingo, 20 de março de 2011

Alguns Poemas (2)

Bobo da Corte

Abobalhado , razão embaçada,
baço com spleen, copo na mão, mão no braço,
passo a beber, besteiras faço.

Em hastes, minha mente faz malabares,
sou o bobo da corte, por ti abobado,
nas abóbadas de teu corpo me fez bobo da corte.

Nas volúpias de teu ser,
embriaguei-me, brinquei,
briguei com meu eu, e bêbado que estava

Perdi minha dignidade.




Não venci

De tudo vi, dali vim, e não venci.
Derrotado por mim mesmo.
Venci e perdi, mas por tal lado ter vencido,
perdi.

(escondo-me em um canto escuro de trevas e lá passo a me desculpar)

Não suporto, o cigarro queima em meus dedos,
De novo, uma derrota,
meus vícios derrotam minhas virtudes.

Seguindo a futura estrangulada,
meu corpo ri na vitória,
enquanto, na derrota, minha alma grita em dores de parto.



Soneto
ps: Apenas a forma, a métrica,não é de soneto.



Das desgraças a mais bela,
dos males, traz o maior bem,
Vem, até esse punhado de pó, vem,
causadora de minha mazela.

Mas tua mazela, me faz um masoquista,
amo sofrer por ti, e só sofrer por ti
amo ter que ver tudo o que vi,
por ti, má, que nas suas bondades ( poucas) me conquista.

E assim, nesse mar rebelde,
com remos quebrados,
sem barca nenhuma,

Danço contigo, uma musa nua,
e tu, está a rir,
prestes a me chutar, em desgraça, na rua.










sexta-feira, 18 de março de 2011

Na companhia de mim mesmo- Capítulo 6- Morrendo e vivendo por Jack Daniels

3 dias e mais algumas horas. Willhelm estava sem beber há 3 dias e mais algumas horas.
Não se lembrava mais de quando ele ficara tanto tempo assim.
No estado em que estava, mal lembrava seu nome.

Corria com uma respiração afobada e tinha alguma saliva espumando de sua boca abstinente, tanto de bebidas quanto de mulheres, e captava as sensações de sua maratona insana, uma maratona em que o grito final, não seria vitória.

A morte nunca é a vitória...

Antes da morte de Willhelm, algumas coisas ainda aconteceriam.

Algumas coisas para lembrar e mais outras para matar.
Esse era o estado de Willhelm, após mais uma bebedeira, em 2022.
Esse era o estado de Willhelm, prestes a morrer, em 2070.

2022: Willhelm tentava se lembrar com quem dormir, e tinha uns coreanos a matar. Hoje por diversão.

2070: Willhelm tentava se lembrar de quem era, e tinha a si mesmo certa prostituta a matar. Hoje por necessidade.


" Morrendo e vivendo por Jack Daniels" As últimas palavras de um diário mentiroso. As únicas verdades totais desse mesmo diário.
''Morrendo e vivendo por Jack Daniels" Na verdade, não era uma verdade de verdade.
"Morrendo e vivendo por Jack Daniels" Estava prestes a ser uma verdade.


Willhelm, pela primeira vez em anos sóbrio, contemplava seu mundo só dele e finalmente percebeu o que podia fazer nele.
Ele viu que podia morrer.


O mundo perderia ? Não.
O mundo venceria ? Não.

Como sempre ele não se importou com isso e finalmente observou seu objetivo no mundo.

Willhelm decidira se matar.





ps: Este não é o último capítulo. Ainda há muita história a ser contada.

domingo, 13 de março de 2011

Ah, a morte.

Ela chegou, sem estar vestida.
e sem estar despida,
era boa, era linda.
Veio provar que minha vida finda.

A morte chegou, tapou meus olhos,
consolou meus inimigos,
surpreendeu aos novos,
fez chorar os velhos, rir os mendigos.

A morte chega, e o bêbado não bebe,
o homicida não mata,
a espada não fere,
a vida é o sim, a morte é o não.









Conselho de vida ultra-romântico.


Busque sempre o mais, não se contente com pouco.
Tente ganhar muito dinheiro. Isso é o certo.
Encha seu estômago com sua comida, sua alma com o charuto e a bebida, teu peito com uma mulher que ame, e dentro da tua mulher coloque um rebento que ames.
Quando estiver satisfeito, pare.

Se amar a sabedoria, sofrerás para sempre, e é isso mesmo minha benção é meu açoite.
Não tente escapar da dor. Melhor, busque-a. E anestesie-a. Ela te dará sua inteligência.
A dor lhe tornará um homem
Não se descuide em momento algum.

Quanto a levar a vida menos a sério, é mentira, a vida é feita de conflitos e dificuldades, sofrimento e spleen são coisas que todos vão sentir, menos os com espírito adolescente que sonham e acabam sendo estuprados pela vida enquanto dormem pensando no quanto sua vida de namoros com quem não se ama e esmaltes coloridos.
Leve a vida muito a sério. É só uma, e uma cheia de sofrimento, de pertubação e de dúvidas
intermináveis. Seja humilde, justo e sábio. Apoie-se em teu Deus.
Aproveite-a e a engane.



Torne-se imortal.

Avisos.

Se eu estivesse em você, você não estaria em mim.
Se eu estivesse em você, meu veneno te aniquilaria.
Se eu estivesse em você, o vazio de minha alma mataria[-te te tédio.
Se eu estivesse em você, meus vícios provocariam-te câncer

Contudo, com você em mim,eu não me importaria de [morrer lenta e dolorosamente.



Na companhia de mim mesmo- Capítulo 5 - Fugindo e negando.

De pronto, ele negou. Depois, a negação não lhe satisfazia mais, e a negação se foi, dando lugar a uma dose dupla de Jack Daniels. Neste ponto, a negação lhe satisfaria, mas a negação havia ido.
Satisfação não era o forte daquele tempo.
Na verdade, satisfação não era o forte da vida de Willhelm.
E ele sempre a caçou.

Ele era um caçador nato. Ninguém, nada, fugia de suas mãos que cheiravam a uísque. Apenas ele fugia dele mesmo. Apenas ele se esquivava do seu medo da separação da bebida, seu medo da morte, seu medo de matar a prostitua asiática...

Em 2022 ele estava fugindo, e não era dele mesmo.
Fugia de um monte de gente, mulheres em que bateu, barmans que não pagou, pais de filhas grávidas e, vez em quando, dele mesmo.
Mas nenhum destes era o caso. Fugia de gente que queria matá-lo.
Em 2070 ele pensou, e reparou, que sua fuga naquele momento de outrora, era exatamente a mesma das outras fugas.

De gente querendo matá-lo.

Ele ouvia as notícias. Lia as manchetes, ouvia os tiros, e os "ruídos" da limpeza étnica que alguns coreanos faziam em seu país.
Willhelm apenas desligava a Tv, e buscava os quadrinhos. Enquanto tivesse pernas para correr,uma arma, e uma garrafa e Jack Daniels ele não se importava se os outros homens morressem, e as mulheres dessem a luz a mestiços de olhos de puxados.


Em 2070, ele viu que se enganou, e que adoraria ter uma mestiça de olhos puxados, nua, ao seu lado.

Em 2022, ele negava a situação do mundo. Um mundo que começava a acabar.

2070, ele fugia de si mesmo, colocando mais e mais mentiras a seu respeito, num velho caderno de capa de couro vermelho.









sexta-feira, 11 de março de 2011

Biografia bem-escrita

O que eu sou ?
Nos meus frios dedos,
no opaco dos meus olhos,
em minha voz sem vida,
nos meus cabelo sem cor,
tu vês algo que ame ?

Alguém que não morre,
Mas pára de viver,
alguém que só sofre, apesar de não viver.

Alguém ?

terça-feira, 8 de março de 2011

Na companhia de mim mesmo- Capítulo 4 - Marcas de Guerra

O rosto estrebuchado e sangrando da prostituta asiática morta estrangulada em Las Vegas, lembrava o rosto de Willhelm quando passava tempo de mais com o velho Jack Daniels.

Lembrava também o rosto de Willhelm quando este perdeu um olho.
Coisas da guerra.

Uma mão segurando o olho dependurado por uns 2 centímetros abaixo de onde deveria estar o olho. E a outra segurando sua primeira arma, que utilizava como último recurso, que explodia a cada tiro, até o sexto e último.


Willhelm saiu vivo dessa. Mas isso não significava nada bom. Ainda assim, ele perdera um olho atingido por estilhaços de granada.


Willhelm, poderia até entender os motivos da guerra, mas ele não queria.

Se fosse para guerrear, guerrearia, adorava fazer aquilo. E faria, é claro, para os mocinhos.
América.


Enquanto escreve, Willhelm pensou em chorar pela Japonesa. Não passou disso, um gole do velho Jack e ele já tem coragem para pular um capítulo e falar sobre a guerra.

Sim, ele amava beber. E não bebia só por isso. Bebia porque se tornava um homem mais forte e menos sentimental ( adjetivo deplorável no dicionário de Willhelm), e entre outras coisas, porque era dependente física e mentalmente disso.

Não era um vício como o cigarro ou cartas ( que também estavam intrincados na alma de Willhelm). Era um vício que o completava. Um vício que era virtude.

Tinha marcas de guerra ? Sim. Não tinha um olho, o esquerdo, era levemente e astuciosamente manco, e claro, haviam as lembranças.

Como a maioria das pessoas, Willhelm sente até hoje as marcas da guerra.
Como a minoria das pessoas, Willhelm consegue dormir tranqüilo até hoje.

Ele amara os tempos de guerra. As bebedeiras, as brigas de faca, as cidades vazias, a vida melhorara muito desde o doze anos...


Mas, ele não foi recrutado.


Era só mais uma pessoa tentando sobreviver na América, agora, arrasada.


Ele não entendera muito bem, mas havia alguns soldados nas ruas ( não Americanos), matando gente.
Ele não entendera muito bem, mas parecia que todos os Estados Unidos da América haviam sido invadidos.
Ele não entendera muito bem, mas seu país parecia estar tomando medidas drásticas.





Podia ser o efeito do velho Jack, não seria a primeira vez, mas era tudo tão real.

"Que se dane", pensou Willhelm, assistindo na Tv, milhares de soldados de olhos puxados matando americanos, e ao mesmo tempo levando o copo a boca, sem perceber estar vazio.

"Que se dane", reproduziu Willhelm no seu caderno, agora com um sorriso enferrujado e amarelo e ao mesmo tempo o mais sarcástico do mundo.



Willhelm, não sabia, mas estava certo, sempre estava.


Seja em 2022 ou 2070, danação seria um conceito presente em cada dia de sua vida miserável.

"Que se dane", escrevia Willhelm, com um sorriso amarelo de escárnio e uma reflexão:


Como a unica vida da terra poderia, de algum modo, ter sido a dele ?







Um soneto

Soneto

Corvos me roem o abdômen,
em mim adormeceu de minha vida, a fonte
que atraiu criaturas vindas d'Aqueronte,
Note que não sou mais homem.

Os vermes que consomem minha mente,
consomem mentes de outrem,
e já gordos,não mentem:
- Estamos tão fortes, de repente !

E do homens, tira a virtude
metendo-lhes de seus vícios, o quinhão,
e da alma humana a juventude.


Enquanto dorme a razão,
acordam os males da humanidade,
sem que recebam punição.






segunda-feira, 7 de março de 2011

Na companhia de mim mesmo- Capítulo 3 - Ela era Perfeita

Ficando sóbrio, Willhelm, começava a refletir. E nesse exato momento refletia sobre a mulher que mais amou na vida.
Mas nunca trocou uma palavra com ela.Isso até foi importante para o afeto de Willhelm por ela.

Os olhos sem brilho de Willhelm apontavam para o avental do barman gordo e calvo( que, prostrado a sua frente, chamava-lhe atenção),mas assistiam o caminhar de uma japonesa, na cidade de Las Vegas.

A japonesa caminhando na cidade de Las Vegas era exatamente a mesma mulher que fazia Willhelm beber e ao mesmo tempo refletir, seja em 2022 ou em 2070.

Mas tempos diferentes, reflexão diferente.
Nesse exato momento, Willhelm pensava em como descrevê-la.
A 38 anos atrás, Willhelm pensava em como matá-la.

Seus motivos eram claros e sucintos, iria matá-la, assim não poderia mais traí-lo.

Ela morreu ? Sim


Mas isso não importava. Ninguém mais estava vivo.
Las Vegas foi destruída, as bebidas estavam se acabando, as mulheres mortas, ninguém em quem atirar, nada para explodir.

Willhelm não tinha utilidade nenhuma num mundo sem pessoas. Um mundo sem pessoas sugere um mundo sem guerras e um mundo sem inconvenientes.

As únicas coisas que Willhelm sabia fazer ( profissionalmente) era se livrar rápida e eficientemente de seus inconvenientes, e, de vez em quando, lutar nas guerras.

Ela era perfeita pra ele. Bonita, não falava a língua dele, e por um punhado de dólares, poderia ser quem Willhelm quisesse. Na cama, é claro.

Pena que teve de morrer.

Nas parcas páginas de seu caderno Willhelm descreve a traição da japonesa. Como teve a capacidade de ver outro homem, mesmo tendo hora marcada.

Um erro profissional da parte dela, fazer Willhelm amá-la. Mas Willhelm não se importava com os problemas dos outros. E não se importaria com os problemas dela, ainda que tivesse que passar algumas horas com o velho Jack Daniels para suportar isso.


Ele tinha de matá-la.


Ela morreu ? Sim
Ele a matou ? Não.


Antes de encontrar a japonesa num dos quartos de um hotel qualquer em Las Vegas, encontrou no chão um jornal, que, noticiava, entre outras coisas, um ataque nuclear em Nova York, o início da terceira guerra mundial, e a morte de uma prostituta asiática em Las Vegas.


Mas notícias ? Não.

Suas balas foram poupadas e ele finalmente teria o que fazer.




















Dúvida

Nas ruas, onde me deixaste,
cultivo um amor ainda mais intenso.
Mas não por ti,
não por tuas tranças,
seus lábios,
teus cândidos seios,
seus risos e sua beleza.

Cultivo um amor ainda mais potente
Um amor, um amor pelo ódio.
Odeio-te com certo amor,
pois odiar-te me faz bem

Odeio meu amor remanescente por ti,
odeio tua beleza, odeio querer te odiar,
tu em mim, inspiras apenas ódio.

Ódio de ti, ou ódio de mim ?


Na companhia de mim mesmo- Capítulo 2 - Jack Daniels e eu,

Aos doze anos, Willhelm, nunca imaginava ser a última pessoa na terra. Também não imaginava que seria responsável pela morte de algumas.


Foi feliz ? Não, mas sabia disfarçar bem, e isso ele fez a vida toda. Mentir.

Mentia a sua mãe, mentia aos seus "amores", e o mais importante, mentia a si mesmo.

Hoje ele não tinha ninguém para quem mentir. Tudo perdera o sentido, menos o velho Jack Daniels isso nunca parava de fazer sentido, ou alegra-lo.

Talvez a culpa seja toda do velho Jack.
Sem ele Willhelm nunca teria manejado sua primeira arma ( que guarda com carinho até hoje ), e sem isso, algumas vidas teriam sido poupadas.

Sim, algumas vidas teriam sido poupadas, até o ano de 2070, onde apenas a sua vida foi poupada.
Ele nunca entendera toda essa besteira de vida ou morte. Nunca se importou com a morte, e talvez seja por isso que a morte, ao passar por ele, virou-se e procurou alguém que se importava com ela.

A carne de veado já lhe enjoara, e a tinta de sua caneta estava bem cheia, contrastando com a falta de páginas de seu caderno. Ainda restavam umas 7 páginas, e lhe restavam tantos anos a serem expostos nela...

Willhelm não entendera sua decisão, escrever um diário.

Quem vai ler ? Quem vai entender ? Quem no mundo, mesmo se existissem pessoas nele agora, o amariam ?


Mesmo assim, sua vida lhe intrigava. Ele amou tudo pelo o que passou, e por via das dúvidas resolveu escrever alguns anos de sua vida nesse diário.

Havia coisas de que ele se lembrava sim, da sua infância, Alemanha pré-guerra, sua vinda a América, a morte de seus pais, de suas amantes, de seus amigos, a morte de todos, e finalmente todas as mulheres que já experimentara.


Foram muitas ? Sim, muitas, mas nenhuma delas o agradou mais do que aquela, não a primeira, não a última, apenas a melhor.

Melhor até do que a companhia do velho Jack

Ela era perfeita



















Alguns Poemas

Verdade

Ela se esconde, uma bastarda
Filha do mundo, sempre procurada.
Veste sempre uma túnica apenas,
e sempre querem lhe trocar.

Me fez sofrer, esta donzela,
a procurei a vida toda,
e apenas quando a vida em si acabou,
abracei-a, amando-a pela primeira vez.

Contemplei sua beleza imortal,
mas não passei disso,
por conhecê-la finalmente,
não preciso mais dela.

Mentira

O que sai da tua boca,
a natureza de meus atos,
o discurso de algum sábio,
meu elogio a tua beleza,
o seu arrependimento,
todas as minhas juras,
todos os meus amores,
toda a minha vida.




domingo, 6 de março de 2011

Na companhia de mim mesmo- Capítulo 1 - Quem é Willhelm ?

A notícia lhe atingiu como um raio.

A guerra começara, e ele era um desertor. Milhões de pessoas mortas em seus país, América.E ele era um dos poucos sobreviventes de sua região.

Mas nenhuma delas era a notícia. A notícia lhe foi dada por um barman gordo e calvo, com sobrancelhas grisalhas que se uniam e davam a sensação de unidade ao seu rosto, fazendo-o parecer todo apenas um rosto, uma cabeça.

A notícia era um inconveniente, e o cliente do barman gordo e calvo sempre se livrara de seus inconvenientes.

Tristemente, a notícia era a de que a bebida acabara.



Naqueles tempos, precisamente 2022, estar vivo era uma coisa extremamente ruim e incômoda.
Estar sóbrio era ainda pior, não se podia suportar a vida conscientemente.



Willhelm estava vivo há uns 40 anos, e começando a ficar sóbrio naquele momento, e isso era altamente inconveniente.
Mas ainda havia outras pessoas, vivas e sóbrias nesse mundo.






Agora Willhelm estava vivo há exatamente 78 anos. Era ainda muito forte e cuidava da barba que cultivava desde quando ela existia. Nada demais mudou no mundo, a mesma guerra, os mesmos problemas, a unica diferença eram as pessoas. Não que os espíritos das pessoas haviam mudado bruscamente, apenas não pertenciam mais aos corpos dessas pessoas.


Em outras palavras, ninguém mais, exceto ele, estava vivo.
E ele não estava sóbrio.


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Mais um conto.