sábado, 23 de abril de 2011

Na companhia de mim mesmo- 9º e último capítulo - Uma ópera de delírios na mente de um homem sóbrio.

Uma última gota de tinta cai sobre a última página de um diário de couro vermelho sobre a grama verde dos pastos desabitados de algum lugar da América, enquanto a última gota de uma garra de uísque Jack Daniels caía sobre a garganta do último homem sobre a terra.O último, mas nem de longe o melhor deles.

Não era a primeira vez que isso acontecia. Numa noite de 2022, a última gota de álcool em uma bar de Las Vegas, escorria pela boca de um homem mal vestido que carregava uma arma em sua mão.
Notava-se a tristeza em seus olhos sujos.Notava-se a pequena ópera que ressoava em sua cabeça loura e cheia de ódio.

Os olhos escuros, sem nenhum sentimento, fitavam os olhos do barman, e nada precisava ser dito.

9 passos para o sul, Willhelm estava fora do bar, pensando o jeito mais fácil de matar a pessoa que mais amou na vida.
Sob seus pés, um jornal que lhe diria que ele não precisaria mais fazer isso.

Sob sua cabeça, o mundo pairava silencioso, prestes a terminar.


Uma explosão, todos deixam de existir.
9 passos para o sul, em 2070, e Willhelm está a beira de um abismo.



Willhelm caminha sóbrio, trôpego, com a loucura em seu pior e mais elevado estágio.Ele se vê entre os dois pontos de sua vida. Uma vida longa demais para uma pessoa como ele.

2022 - Uma mulher estrangulada é estampada num jornal de uma época moribunda.

2070-Esta mesma mulher entre duas rochas, encara Willhelm sóbrio.


Fruto de uma loucura que só a embriaguez poderia curar.
Willhelm sorri para a mulher logo antes de disparar alguns tiros ante a figura da mulher que um dia o fizera refletir, e depois, mais alguns tiros em sua própria cabeça, que tocava uma ópera confusa e dissonante.






Pequena Crônica


O Poeta e a vingança.

O que mais no caos interior do poeta poderia ser retirado ? O Poeta não sabia, mas mesmo assim, arrancava de seu ser todas as angústias possíveis.Ele estava cansado de falar sobre si mesmo, e decidira agir. Ele iria livrar o mundo do mal que o assolava.

Ele iria vingar a inocência de milhares de pessoas que morrem dia-a-dia.Iria limpar e concertar as coisas, já que seu espírito, ele não conseguiu desinfetar de suas paixões e vícios, não conseguiu, com rimas e amores, acabar com toda a solidão e mortandade de sua alma.

No começo, suas vítimas imploravam por redenção.O Poeta respondia que era justamente o que ele faria.Toda redenção começaria com a morte.A toda morte que ele causava, um poema em sua honra era logo cantado e escrito em pequenos bilhetes, ao lado dos mortos. Poemas simples, trovas pequenas.
Tudo aquilo que o Poeta desejava para si.

Ninguém esperava, depois de tanta vingança e tanta justiça, este poema, ao lado de um corpo sujo e pálido:

"A morte começa com a redenção.
Meu caso não é exceção
Eu me redimo, em tom de poesia,
De uma vida vadia e vazia"

E o Poeta jamais poetou, amou e se vingou.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Contra luz, pálida figura jaz em meus braços,
a falta de esperança, de vida, a falta de ti.
És uma como eu, agora, morta, por dentro e por fora.

O raio é não poder te amar e te ter.
A desgraça que se abate sobre mim,
não se abateu sobre ti.

Mais uma desgraça para mim, felicidade para ti.

domingo, 3 de abril de 2011

Mais algumas poesias

Auto-Sacrifício.
"Abdico-me.
Recuso meu melhor presente,
por não entendê-lo de todo.
Me sacrifico, ofereço-me todo a morte,
que venha, quieta e indolor."

Nós
Me faltam.
Sou algo, algo faltante.
Do nada resultante,
O tudo ausente,
o saldo devedor,
menos que um,
sou algo que falta,
um peso ao mundo.

E tu que és muito, me aceita como falta,
me completa contigo, e juntos somo nada.