quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Discurso.

-Me pergunto se o castigo do homem não é ser homem. Me pergunto se o castigo do homem é, aliás, ser. É o castigo do homem, fazer parte de um todo ? Ou comandar um todo ? O Castigo do homem, é saber o seu castigo, é ver com seus próprios olhos, espelhos de sua alma, que é um homem. Somos castigados pela inteligência. Nosso algoz e carrasco é o próprio Saber

-Não há castigo para o homem, Soros-Minha voz sai estridente no campo vazio da noite musical de Londres. Falamos o bom português, língua sonora, de emoções- Há apenas o presente e os copos de Gin. O que existe entre essas coisas são apenas preenchimento inútil.

-O presente ? Que presente ?

-Esse presente, esse exato momento.

-Você ia bem com ser discurso. Pensou que não me senti maravilhado com suas palavras anteriores ? Claro que sim. Esse exato momento ? Que exato momento ? Não se pode dizer "Estou no presente" pois o presente é um ponto na linha de tempo. É figurativo demais. As únicas coisas que existem no tempo são o passado e o futuro. O presente não é nada.

-Ora, não é nada ! Que seja conveniente então ! Vivemos no Nada ! Pra quê buscar ? Qual o sentido destas coisas ?

-Há um sentido, e ele está na sua frente. Bom, não por agora, os copos de Gin me cansaram. Esse bar me cansou. Londres me Cansou. Até mais.

A súbita despedida de Soros me provou que eu estava errado. Soros teceu um excelente fio de raciocínio apenas saindo sutilmente do bar em Londres. Me deu em muito do que pensar sobre o sentido da minha vida inútil, e esse foi meu castigo. Foi dele um dia, e se de minhas carnes uma prole sair, desta geração será o castigo também...
Amen....


O Filósofo

Vértice da vida,
momento essencial de idéia essencial,
pulsam os corações, que se mancham desta idéia,
e formam esta marcha,
uma marcha de homens torpes e embriagados.

Rasga no céu o sorriso de Deus,
e as brisas, assopradas por gigantes,
me encaminham a garganta da destruição,
da vida, dos dialetos e da Existência :
Sou pequeno e confuso demais.