domingo, 26 de dezembro de 2010

À loucura

A maior virtude do homem
É saber que toda a sua razão,
Foi embora, perdeu seu quinhão.
Alegria que vai e que vem.


Viver na lua, e em suas fases
Ser escuro, embriagado
E não ser obrigado,
A viver neste mundo, junto das fezes.

Perceber em todos os traços,
Rugas, feridas por lanças,
Ver feiúra em beleza, juntá-las em laços


Insanidade, por que não me alcanças ?
E em teu longos braços,
Me conforta e me balanças ?

Um pouco de prosa: Primeira chegada de Virgílio ao Inferno e suas sensações.

As sensações daquele lugar em nada agradavam a visão do Poeta.
O som ambiente era realmente perturbador. Milhares de almas sufocadas pelo sofrimento eterno, almas incendiadas pelo fogo que nunca se apaga. Seus gritos matavam cada pedaço de seu corpo. Até o mais forte dos seres humanos padeceria perante a dissonância do lugar.
A visão era vermelho e preto numa junção de sangue e mais sangue, muitos degenerados e seu aspecto corrompido se tornando cada vez piores física e esteticamente, tudo podia piorar, e isso era o mais importante para um visitante ( ou residente) do local.
Os aromas exalados eram incomparáveis, uma mistura de todo o pecado humano convertido num fedor exalado eternamente. Inexplicável.

O Poeta sabia que não seria a última vez que visitaria tal local, mas sabia que seria melhor do que a próxima.



quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Quem sou eu ?

Viro-me ao espelho, e em meu reflexo,
Vejo, não um homem, uma criatura
sem nenhum tipo de nexo,
que esbanja de uma peculiar feiúra.

Sou eu mesmo, ou o que me tornei ?
Talvez eu seja coisas que nem mesmo sei,
ou o reflexo de tão pouco amor que dei,
e pude dar, o mais provável pode ser,
todo o afeto que em minha vida pude receber.

Sinto-me mal, um peso na consciência,
a qual nunca tive tempo de experimentar,
enquanto me dedicava, àquela sublime ciência:
Filosofia, pela qual, passei muito tempo sem amar !

Abundância em conhecimentos,
escassez em sentimentos,
na vida de alguém que depois dela,
vê seu reflexo no espelho,
a própria figuração da morte:
Meu próprio Eu.


Lembranças de longe dali.

Longe dali resta-me apenas a saudade,
a saudade de um monstro,
por aquela deidade,
Saudade que certamente, por ela,
não é compartilhada,
enquanto penso nela,
nesta poeirenta estrada.

E meus versos vou escrevendo,
e seu rosto em minha mente observando,
sua expressão atenta, me olhando,
Mesmo que à mim, nunca tenha dirigido palavra,
Toda sua voz e sua essência, em minha poesia esperava
colocá-la, e assim, mais do que versos se tornava :



Uma lembrança, de longe dali.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Que sentes ?

O que você sente
quando me vê ao seu lado,
de amor quase doente ?
Piedade, ódio, rancor,
Como se sente ?

Quando olha pra mim,
enquanto tento, à muito esforço,
não deixar esse momento chegar ao fim,
Lhe pergunto:
Como se sente ?

Ou melhor : você sente ?
Ou a todo momento mente,
sempre me olhando friamente ?
Como você se sente ?



segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Antítese

II- Requiem


Meu requiem não foi cantado,
meu corpo não foi sepultado,
minha morte não foi lamentada,
minh'alma não foi elevada.

O único ser que chora minha morte
é meu próprio eu,
que reclama, por não ter tido nenhuma sorte,
naquele coração, que é o teu.

Ainda permaneço, morto, mas amando,
vivo, mas descansando,
morto, mas chorando.






Soneto

Por ti, e só por ti, senhora
sabes que guardo, aqui, tanto amor
quanto um doloroso rancor,
que se combatem e aumentam de ora em ora.

Sabes o que fez, e sabes que eu sei,
que por ti, teu corpo e tua presença
faria das tarefas a mais extensa
ultrapassaria todas as barreiras da lei.

E preferiu, com muito gosto
se afastar de mim, um velho monstro,
até me matar de grande desgosto.

E por ti, e só por ti senhora,
vivo eternamente,
a sonhar, contigo, caminhando o mundo afora...



domingo, 17 de outubro de 2010

Antítese.


I - Dúvidas na Imortalidade


Tantos amores e tanta ilusão.
Como algo tão real, tão próximo
Me parece tão distante, tão ilógico até então ?
Idéias contrárias, vão e vem nesta vida
que a certeza de vez em quando, me parece tão sumida.


Apesar de existir, e saber disso,
e saber de tanta coisa,
e tudo aquilo que meu ser sempre visa:
Sapiência, percepção, tudo o que cobiço
me parece tão mínimo, perto do que são os sentimentos...

Minha capacidade de viver pode ser até eterna,
não sei, mas minha felicidade,
Ah ! a felicidade, se anula,
neste mundo onde a certeza de meus sentimentos
é quase nula.

O caminho continua, e vai seguindo
todos as pessoas (amadas ou não) vão ao poucos sumindo.
Mas como todo mundo sempre diz,
foi gente que era e se foi feliz...



Esquecendo-me de mim mesmo.

A música me faz bem,
esquece-me de quem eu sou.
Assim é toda a arte também,
Eleva-me deste estado em que estou.

Poetas ! Dádivas de Deus.
fazem-me por de lado,
todos os sofrimentos meus
Nem sou mais, eu aquele homem malvado.


Entre toda esse dissonância,
esse caos, essa desordem
ainda há esperança,
Na arte, na cultura e em todo sábio homem.

sábado, 16 de outubro de 2010

Porque acordar ?

Agora sinto-me bem, e é raridade
Raramente sou beneficiado
Com tanta e tão bela caridade,
desse mundo, um mundo fadado
a ruir, a cair.

Tal caridade me é dada todos os dias,
com os pássaros, águas e brisas,
Descobri que tu não mentias,
enquanto falava-me, com muitas premissas,
que amava-me e iria me amar,
para todo o o período que costumamos chamar
de tempo.

Ainda mais coisas descobri, descobri que tanta caridade
Me foi dada, não na realidade,
aquilo tudo foi apenas um sonho, um sonho acordado,
que agora se torna tão doloroso
e me faz alguém tão desditoso.



Cristo, dai-me forças, para que eu aceite minhas fraquezas.

Perdão Senhor, por todo mal que cometi.
Por tudo aquilo que, de ruim, minha vontade cedi.
Sou homem, um homem fraco.
Quem dera ser forte, como quero ser.
Forte, sem ter vergonha de padecer,
quando minhas bases eu romper.

Senhor, que eu seja forte,
para aceitar e conformar,
minha fraqueza.

Soneto

Uns olhos à mim se dirigem.
Olhos expressivos. Olhos de mulher.
Tudo aquilo que Werther tanto quer.
Acorde logo desse sonho, dessa miragem.

Era real, tristemente para a outra pessoa.
Consigo voltar-lhe o olhar ?
Sem ao menos, um pouco, o desviar ?
Era apenas um olhar, nada neles, um olhar à toa.

Queria eu poder ter visto a face daqueles olhos.
A quem eu, ingênuo, imaginei, ser a mim,
tão belos e tão dispostos.

Queria eu poder ter ao menos visão.
para ver, o que era falso, ao menos.
Ou aquilo que está sob os domínios da razão

Maratona de um vencido

Estou, agora , afugentado.
Correndo, bufando.
Por entre várias pessoas vou passando.
Entre animais, pessoas, casais, amores, o mundo em si.
O mundo me vê. Eu o vejo.
E enxergo nele muito potencial
Apesar de toda escolha e todo mal,
vejo uma esperança.
Não, não era uma esperança.
A última virtude de um mundo perdido, se foi.
Morreu, e ninguém a sepultou,
Merecia, entre tanta rutilância.
Dentro de mim, cresce uma vontade.
Voltar no tempo, nos tempos da Hélade.
Ver se o mundo era mesmo bom, mesmo virtuoso,
Nos chamados bons tempos...
Tempos clássicos, agora sepultados.
Ainda bem. Graças !
Minha corrida chega ao final, um final contraditório.
Voltei-me ao início, meu local de partida.

Um local vazio, como eu mesmo.
Vazio, vazio de sentimentos.
padeço aqui, no fim da corrida, sem poder dizer ao menos:
"Vitória!"






Balada para....


Quando te percebi naquele fatídico dia de inverno
Vi em você mais do que uma mulher mundana,
vi que tinha mais valor do que certos anjos no céu,
Para mim, não,para a o mundo.
Queria que aquele relance fosse eterno
Toda minha servidão, soberana
Contigo podes guardar, só se estiver em peito meu
Seu sentimento, por este reles cadáver imundo.


Entre sábios, me torno poderoso,
Mas minha pequena percepção, percebe
que meu corpo, desespero desse mundo, embebe.
E, enquanto o mesmo está todo rançoso,
Tua presença o enrijece, pareço mais forte,
Sobre o teu olhar,
Toda a sede de morrer, ou de matar,
Parece sofrer um profundo e doloroso corte.

Sem mesmo vê-la, estou contigo,
teu aroma ainda tem poder
não quero esquecê-la, quero-a comigo
mas, responda-me, tenho o teu querer ?
Sem resposta fico, no momento. (?)
Enquanto, à frente de minha estante, me sento,
falar com Sheakespeare, Homero, Poe
para melhorar, aquilo que sou.


No final, estou só.
De qualquer forma, como disse
No final, sou apenas um rastro
de sombra e pó.




Num piscar de olhos

Eu vejo o que me parece ser uma ilusão
Mas logo vejo que tudo aqui é palpável
Caminho entre montes de escrituras, de papel.
Morto ?

Me vejo caminhando por um extenso corredor.
Meu medo desaparece, tudo o que passei durante minha vida
sofrimentos, amores, poesia.
Passou tudo tão rápido.
Morto ?

Meu corpo agora frio, carregado
Por falsos amigos, vai passando entre moças e parentes chorando,
todos eles, todos se perguntando.
Morto ?

Mais um ao fundo da terra, esperando o conforto da eternidade
passou por esta vida, com tarefas árduas,
rápido demais.
Morto ?
Não, apenas, feliz.