sábado, 26 de março de 2011

Na companhia de mim mesmo- Capítulo 7 - Final do mundo no meio de um "Merda!"

7- Como está se sentindo ?

Essa frase ecoou pela mente vazia de Willhelm, fazendo-a doer bastante.
Willhelm estava sóbrio e conseguia ver apenas um teto sujo e pendurado sob ele uma lampâda de luz branca, invasiva, que lhe obrigou a cerrar um pouco os olhos.

- Está tudo ok ?

Essa outra frase pareceu um pouco mais clara para ele. Via um homem de avental branco, e no avental branco via manchas de sangue.

- Está se sentindo mal ?

Willhelm, abre sua boca e dela um som é liberado :

"Não"


Não se sentia mal. Não se sentia mal mesmo.Só não se lembrava qual o motivo de estar ali.
Ao ver rapidamente o médico pegar uma serra e se prepando para cortar uma extremidade sua, Willhelm apenas gritou, suas mãos estavam atadas.

"Nãããããããão"

Um mundo de dor invadiu seu corpo e de repente uma dor pior ainda veio.
Willhelm acordou de mais um pesadelo.
Acordar, como a maioria das coisas nessa época. Era bem incômodo.


O que era aquele sonho ?
Qual seu propósito ?

Não importa. Pelo menos para Willhelm. E muito menos para Willhelm bêbado.

Talvez tenha sido esse sonho que fizera Willhelm cometer seu suicídio, em algumas horas no futuro.
Um futuro que já aconteceu e agora é passado.


Pequenos ruídos de uma ópera antiga invadiam a mente de Willhelm, que carregava sua arma e fitava com atenção uma garrafa vazia de Jack Daniels. Uma garrafa que sobrevivera por mais de 12 anos, agora toda consumida.
Um caderno com apenas uma página faltante está prostrado diante de Willhelm.Willhelm está prostado diante de sua própria loucura, que só a embriaguez poderia curar...



No bar com o homem calvo, 2022 ele acordava do mesmo sonho.
Anos depois desse ocorrido, ele participa deste sonho.
2070, ele sonha e lembra do ocorrido.

Na guerra, homens se ferem.
Willhelm raramente era o caso, e não era o caso agora.
Certamente seqüestrado por traficantes de orgãos e/ou pervertidos, foi operado e perdeu um rim.
Acordou da operação tremendo em uma banheira com gelo, em um hotel de Las Vegas, onde foi encontrado por uma prostituta e seu amante.

Essa é o começo da história da prostituta:
Mais uma pessoa que passou pela vida de Willhelm. Uma pessoa que não passou despercebida.
Como Willhelm não iria perceber a mulher que consumia ?

O final da história da prostituta foi o início da história do homem calvo.
Dono de um bar. Sobre peso. Voz mansa e pacata.

Morreu, queimado pelas chamas nucleares que invadiram a terra, chamas que se esqueceram de queimar Willhelm, fazendo-o expelir um "Merda" de sua boca.


Manchado de sangue, roupas queimadas, e no meio da palavra "Merda", Willhelm contemplava o fim do mundo.

Em 2070, o mundo, manchado de sangue, no meio de um verão infernal, contemplava o final de Willhelm.



























Ps:Ainda não é o último capítulo...




sexta-feira, 25 de março de 2011

Tabaco


A dança da fumaça azulada no ar,
me lembra a essência de minh'alma,
as danças de minha razão, as doenças que posso causar.

Lembro-me do consolo que posso dar,
o vício que posso ser, a destruição que posso impelir.
cousas que não posso impedir,
a distração, que há de te matar.

Mas morre bem, morre bela.
Morre em minha poesia,
morre em minha fumaça.
Morre em minh'alma, que queima lentamente,
expelindo sua fumaça no ar...

domingo, 20 de março de 2011

Alguns Poemas (2)

Bobo da Corte

Abobalhado , razão embaçada,
baço com spleen, copo na mão, mão no braço,
passo a beber, besteiras faço.

Em hastes, minha mente faz malabares,
sou o bobo da corte, por ti abobado,
nas abóbadas de teu corpo me fez bobo da corte.

Nas volúpias de teu ser,
embriaguei-me, brinquei,
briguei com meu eu, e bêbado que estava

Perdi minha dignidade.




Não venci

De tudo vi, dali vim, e não venci.
Derrotado por mim mesmo.
Venci e perdi, mas por tal lado ter vencido,
perdi.

(escondo-me em um canto escuro de trevas e lá passo a me desculpar)

Não suporto, o cigarro queima em meus dedos,
De novo, uma derrota,
meus vícios derrotam minhas virtudes.

Seguindo a futura estrangulada,
meu corpo ri na vitória,
enquanto, na derrota, minha alma grita em dores de parto.



Soneto
ps: Apenas a forma, a métrica,não é de soneto.



Das desgraças a mais bela,
dos males, traz o maior bem,
Vem, até esse punhado de pó, vem,
causadora de minha mazela.

Mas tua mazela, me faz um masoquista,
amo sofrer por ti, e só sofrer por ti
amo ter que ver tudo o que vi,
por ti, má, que nas suas bondades ( poucas) me conquista.

E assim, nesse mar rebelde,
com remos quebrados,
sem barca nenhuma,

Danço contigo, uma musa nua,
e tu, está a rir,
prestes a me chutar, em desgraça, na rua.










sexta-feira, 18 de março de 2011

Na companhia de mim mesmo- Capítulo 6- Morrendo e vivendo por Jack Daniels

3 dias e mais algumas horas. Willhelm estava sem beber há 3 dias e mais algumas horas.
Não se lembrava mais de quando ele ficara tanto tempo assim.
No estado em que estava, mal lembrava seu nome.

Corria com uma respiração afobada e tinha alguma saliva espumando de sua boca abstinente, tanto de bebidas quanto de mulheres, e captava as sensações de sua maratona insana, uma maratona em que o grito final, não seria vitória.

A morte nunca é a vitória...

Antes da morte de Willhelm, algumas coisas ainda aconteceriam.

Algumas coisas para lembrar e mais outras para matar.
Esse era o estado de Willhelm, após mais uma bebedeira, em 2022.
Esse era o estado de Willhelm, prestes a morrer, em 2070.

2022: Willhelm tentava se lembrar com quem dormir, e tinha uns coreanos a matar. Hoje por diversão.

2070: Willhelm tentava se lembrar de quem era, e tinha a si mesmo certa prostituta a matar. Hoje por necessidade.


" Morrendo e vivendo por Jack Daniels" As últimas palavras de um diário mentiroso. As únicas verdades totais desse mesmo diário.
''Morrendo e vivendo por Jack Daniels" Na verdade, não era uma verdade de verdade.
"Morrendo e vivendo por Jack Daniels" Estava prestes a ser uma verdade.


Willhelm, pela primeira vez em anos sóbrio, contemplava seu mundo só dele e finalmente percebeu o que podia fazer nele.
Ele viu que podia morrer.


O mundo perderia ? Não.
O mundo venceria ? Não.

Como sempre ele não se importou com isso e finalmente observou seu objetivo no mundo.

Willhelm decidira se matar.





ps: Este não é o último capítulo. Ainda há muita história a ser contada.

domingo, 13 de março de 2011

Ah, a morte.

Ela chegou, sem estar vestida.
e sem estar despida,
era boa, era linda.
Veio provar que minha vida finda.

A morte chegou, tapou meus olhos,
consolou meus inimigos,
surpreendeu aos novos,
fez chorar os velhos, rir os mendigos.

A morte chega, e o bêbado não bebe,
o homicida não mata,
a espada não fere,
a vida é o sim, a morte é o não.









Conselho de vida ultra-romântico.


Busque sempre o mais, não se contente com pouco.
Tente ganhar muito dinheiro. Isso é o certo.
Encha seu estômago com sua comida, sua alma com o charuto e a bebida, teu peito com uma mulher que ame, e dentro da tua mulher coloque um rebento que ames.
Quando estiver satisfeito, pare.

Se amar a sabedoria, sofrerás para sempre, e é isso mesmo minha benção é meu açoite.
Não tente escapar da dor. Melhor, busque-a. E anestesie-a. Ela te dará sua inteligência.
A dor lhe tornará um homem
Não se descuide em momento algum.

Quanto a levar a vida menos a sério, é mentira, a vida é feita de conflitos e dificuldades, sofrimento e spleen são coisas que todos vão sentir, menos os com espírito adolescente que sonham e acabam sendo estuprados pela vida enquanto dormem pensando no quanto sua vida de namoros com quem não se ama e esmaltes coloridos.
Leve a vida muito a sério. É só uma, e uma cheia de sofrimento, de pertubação e de dúvidas
intermináveis. Seja humilde, justo e sábio. Apoie-se em teu Deus.
Aproveite-a e a engane.



Torne-se imortal.

Avisos.

Se eu estivesse em você, você não estaria em mim.
Se eu estivesse em você, meu veneno te aniquilaria.
Se eu estivesse em você, o vazio de minha alma mataria[-te te tédio.
Se eu estivesse em você, meus vícios provocariam-te câncer

Contudo, com você em mim,eu não me importaria de [morrer lenta e dolorosamente.



Na companhia de mim mesmo- Capítulo 5 - Fugindo e negando.

De pronto, ele negou. Depois, a negação não lhe satisfazia mais, e a negação se foi, dando lugar a uma dose dupla de Jack Daniels. Neste ponto, a negação lhe satisfaria, mas a negação havia ido.
Satisfação não era o forte daquele tempo.
Na verdade, satisfação não era o forte da vida de Willhelm.
E ele sempre a caçou.

Ele era um caçador nato. Ninguém, nada, fugia de suas mãos que cheiravam a uísque. Apenas ele fugia dele mesmo. Apenas ele se esquivava do seu medo da separação da bebida, seu medo da morte, seu medo de matar a prostitua asiática...

Em 2022 ele estava fugindo, e não era dele mesmo.
Fugia de um monte de gente, mulheres em que bateu, barmans que não pagou, pais de filhas grávidas e, vez em quando, dele mesmo.
Mas nenhum destes era o caso. Fugia de gente que queria matá-lo.
Em 2070 ele pensou, e reparou, que sua fuga naquele momento de outrora, era exatamente a mesma das outras fugas.

De gente querendo matá-lo.

Ele ouvia as notícias. Lia as manchetes, ouvia os tiros, e os "ruídos" da limpeza étnica que alguns coreanos faziam em seu país.
Willhelm apenas desligava a Tv, e buscava os quadrinhos. Enquanto tivesse pernas para correr,uma arma, e uma garrafa e Jack Daniels ele não se importava se os outros homens morressem, e as mulheres dessem a luz a mestiços de olhos de puxados.


Em 2070, ele viu que se enganou, e que adoraria ter uma mestiça de olhos puxados, nua, ao seu lado.

Em 2022, ele negava a situação do mundo. Um mundo que começava a acabar.

2070, ele fugia de si mesmo, colocando mais e mais mentiras a seu respeito, num velho caderno de capa de couro vermelho.









sexta-feira, 11 de março de 2011

Biografia bem-escrita

O que eu sou ?
Nos meus frios dedos,
no opaco dos meus olhos,
em minha voz sem vida,
nos meus cabelo sem cor,
tu vês algo que ame ?

Alguém que não morre,
Mas pára de viver,
alguém que só sofre, apesar de não viver.

Alguém ?

terça-feira, 8 de março de 2011

Na companhia de mim mesmo- Capítulo 4 - Marcas de Guerra

O rosto estrebuchado e sangrando da prostituta asiática morta estrangulada em Las Vegas, lembrava o rosto de Willhelm quando passava tempo de mais com o velho Jack Daniels.

Lembrava também o rosto de Willhelm quando este perdeu um olho.
Coisas da guerra.

Uma mão segurando o olho dependurado por uns 2 centímetros abaixo de onde deveria estar o olho. E a outra segurando sua primeira arma, que utilizava como último recurso, que explodia a cada tiro, até o sexto e último.


Willhelm saiu vivo dessa. Mas isso não significava nada bom. Ainda assim, ele perdera um olho atingido por estilhaços de granada.


Willhelm, poderia até entender os motivos da guerra, mas ele não queria.

Se fosse para guerrear, guerrearia, adorava fazer aquilo. E faria, é claro, para os mocinhos.
América.


Enquanto escreve, Willhelm pensou em chorar pela Japonesa. Não passou disso, um gole do velho Jack e ele já tem coragem para pular um capítulo e falar sobre a guerra.

Sim, ele amava beber. E não bebia só por isso. Bebia porque se tornava um homem mais forte e menos sentimental ( adjetivo deplorável no dicionário de Willhelm), e entre outras coisas, porque era dependente física e mentalmente disso.

Não era um vício como o cigarro ou cartas ( que também estavam intrincados na alma de Willhelm). Era um vício que o completava. Um vício que era virtude.

Tinha marcas de guerra ? Sim. Não tinha um olho, o esquerdo, era levemente e astuciosamente manco, e claro, haviam as lembranças.

Como a maioria das pessoas, Willhelm sente até hoje as marcas da guerra.
Como a minoria das pessoas, Willhelm consegue dormir tranqüilo até hoje.

Ele amara os tempos de guerra. As bebedeiras, as brigas de faca, as cidades vazias, a vida melhorara muito desde o doze anos...


Mas, ele não foi recrutado.


Era só mais uma pessoa tentando sobreviver na América, agora, arrasada.


Ele não entendera muito bem, mas havia alguns soldados nas ruas ( não Americanos), matando gente.
Ele não entendera muito bem, mas parecia que todos os Estados Unidos da América haviam sido invadidos.
Ele não entendera muito bem, mas seu país parecia estar tomando medidas drásticas.





Podia ser o efeito do velho Jack, não seria a primeira vez, mas era tudo tão real.

"Que se dane", pensou Willhelm, assistindo na Tv, milhares de soldados de olhos puxados matando americanos, e ao mesmo tempo levando o copo a boca, sem perceber estar vazio.

"Que se dane", reproduziu Willhelm no seu caderno, agora com um sorriso enferrujado e amarelo e ao mesmo tempo o mais sarcástico do mundo.



Willhelm, não sabia, mas estava certo, sempre estava.


Seja em 2022 ou 2070, danação seria um conceito presente em cada dia de sua vida miserável.

"Que se dane", escrevia Willhelm, com um sorriso amarelo de escárnio e uma reflexão:


Como a unica vida da terra poderia, de algum modo, ter sido a dele ?







Um soneto

Soneto

Corvos me roem o abdômen,
em mim adormeceu de minha vida, a fonte
que atraiu criaturas vindas d'Aqueronte,
Note que não sou mais homem.

Os vermes que consomem minha mente,
consomem mentes de outrem,
e já gordos,não mentem:
- Estamos tão fortes, de repente !

E do homens, tira a virtude
metendo-lhes de seus vícios, o quinhão,
e da alma humana a juventude.


Enquanto dorme a razão,
acordam os males da humanidade,
sem que recebam punição.






segunda-feira, 7 de março de 2011

Na companhia de mim mesmo- Capítulo 3 - Ela era Perfeita

Ficando sóbrio, Willhelm, começava a refletir. E nesse exato momento refletia sobre a mulher que mais amou na vida.
Mas nunca trocou uma palavra com ela.Isso até foi importante para o afeto de Willhelm por ela.

Os olhos sem brilho de Willhelm apontavam para o avental do barman gordo e calvo( que, prostrado a sua frente, chamava-lhe atenção),mas assistiam o caminhar de uma japonesa, na cidade de Las Vegas.

A japonesa caminhando na cidade de Las Vegas era exatamente a mesma mulher que fazia Willhelm beber e ao mesmo tempo refletir, seja em 2022 ou em 2070.

Mas tempos diferentes, reflexão diferente.
Nesse exato momento, Willhelm pensava em como descrevê-la.
A 38 anos atrás, Willhelm pensava em como matá-la.

Seus motivos eram claros e sucintos, iria matá-la, assim não poderia mais traí-lo.

Ela morreu ? Sim


Mas isso não importava. Ninguém mais estava vivo.
Las Vegas foi destruída, as bebidas estavam se acabando, as mulheres mortas, ninguém em quem atirar, nada para explodir.

Willhelm não tinha utilidade nenhuma num mundo sem pessoas. Um mundo sem pessoas sugere um mundo sem guerras e um mundo sem inconvenientes.

As únicas coisas que Willhelm sabia fazer ( profissionalmente) era se livrar rápida e eficientemente de seus inconvenientes, e, de vez em quando, lutar nas guerras.

Ela era perfeita pra ele. Bonita, não falava a língua dele, e por um punhado de dólares, poderia ser quem Willhelm quisesse. Na cama, é claro.

Pena que teve de morrer.

Nas parcas páginas de seu caderno Willhelm descreve a traição da japonesa. Como teve a capacidade de ver outro homem, mesmo tendo hora marcada.

Um erro profissional da parte dela, fazer Willhelm amá-la. Mas Willhelm não se importava com os problemas dos outros. E não se importaria com os problemas dela, ainda que tivesse que passar algumas horas com o velho Jack Daniels para suportar isso.


Ele tinha de matá-la.


Ela morreu ? Sim
Ele a matou ? Não.


Antes de encontrar a japonesa num dos quartos de um hotel qualquer em Las Vegas, encontrou no chão um jornal, que, noticiava, entre outras coisas, um ataque nuclear em Nova York, o início da terceira guerra mundial, e a morte de uma prostituta asiática em Las Vegas.


Mas notícias ? Não.

Suas balas foram poupadas e ele finalmente teria o que fazer.




















Dúvida

Nas ruas, onde me deixaste,
cultivo um amor ainda mais intenso.
Mas não por ti,
não por tuas tranças,
seus lábios,
teus cândidos seios,
seus risos e sua beleza.

Cultivo um amor ainda mais potente
Um amor, um amor pelo ódio.
Odeio-te com certo amor,
pois odiar-te me faz bem

Odeio meu amor remanescente por ti,
odeio tua beleza, odeio querer te odiar,
tu em mim, inspiras apenas ódio.

Ódio de ti, ou ódio de mim ?


Na companhia de mim mesmo- Capítulo 2 - Jack Daniels e eu,

Aos doze anos, Willhelm, nunca imaginava ser a última pessoa na terra. Também não imaginava que seria responsável pela morte de algumas.


Foi feliz ? Não, mas sabia disfarçar bem, e isso ele fez a vida toda. Mentir.

Mentia a sua mãe, mentia aos seus "amores", e o mais importante, mentia a si mesmo.

Hoje ele não tinha ninguém para quem mentir. Tudo perdera o sentido, menos o velho Jack Daniels isso nunca parava de fazer sentido, ou alegra-lo.

Talvez a culpa seja toda do velho Jack.
Sem ele Willhelm nunca teria manejado sua primeira arma ( que guarda com carinho até hoje ), e sem isso, algumas vidas teriam sido poupadas.

Sim, algumas vidas teriam sido poupadas, até o ano de 2070, onde apenas a sua vida foi poupada.
Ele nunca entendera toda essa besteira de vida ou morte. Nunca se importou com a morte, e talvez seja por isso que a morte, ao passar por ele, virou-se e procurou alguém que se importava com ela.

A carne de veado já lhe enjoara, e a tinta de sua caneta estava bem cheia, contrastando com a falta de páginas de seu caderno. Ainda restavam umas 7 páginas, e lhe restavam tantos anos a serem expostos nela...

Willhelm não entendera sua decisão, escrever um diário.

Quem vai ler ? Quem vai entender ? Quem no mundo, mesmo se existissem pessoas nele agora, o amariam ?


Mesmo assim, sua vida lhe intrigava. Ele amou tudo pelo o que passou, e por via das dúvidas resolveu escrever alguns anos de sua vida nesse diário.

Havia coisas de que ele se lembrava sim, da sua infância, Alemanha pré-guerra, sua vinda a América, a morte de seus pais, de suas amantes, de seus amigos, a morte de todos, e finalmente todas as mulheres que já experimentara.


Foram muitas ? Sim, muitas, mas nenhuma delas o agradou mais do que aquela, não a primeira, não a última, apenas a melhor.

Melhor até do que a companhia do velho Jack

Ela era perfeita



















Alguns Poemas

Verdade

Ela se esconde, uma bastarda
Filha do mundo, sempre procurada.
Veste sempre uma túnica apenas,
e sempre querem lhe trocar.

Me fez sofrer, esta donzela,
a procurei a vida toda,
e apenas quando a vida em si acabou,
abracei-a, amando-a pela primeira vez.

Contemplei sua beleza imortal,
mas não passei disso,
por conhecê-la finalmente,
não preciso mais dela.

Mentira

O que sai da tua boca,
a natureza de meus atos,
o discurso de algum sábio,
meu elogio a tua beleza,
o seu arrependimento,
todas as minhas juras,
todos os meus amores,
toda a minha vida.




domingo, 6 de março de 2011

Na companhia de mim mesmo- Capítulo 1 - Quem é Willhelm ?

A notícia lhe atingiu como um raio.

A guerra começara, e ele era um desertor. Milhões de pessoas mortas em seus país, América.E ele era um dos poucos sobreviventes de sua região.

Mas nenhuma delas era a notícia. A notícia lhe foi dada por um barman gordo e calvo, com sobrancelhas grisalhas que se uniam e davam a sensação de unidade ao seu rosto, fazendo-o parecer todo apenas um rosto, uma cabeça.

A notícia era um inconveniente, e o cliente do barman gordo e calvo sempre se livrara de seus inconvenientes.

Tristemente, a notícia era a de que a bebida acabara.



Naqueles tempos, precisamente 2022, estar vivo era uma coisa extremamente ruim e incômoda.
Estar sóbrio era ainda pior, não se podia suportar a vida conscientemente.



Willhelm estava vivo há uns 40 anos, e começando a ficar sóbrio naquele momento, e isso era altamente inconveniente.
Mas ainda havia outras pessoas, vivas e sóbrias nesse mundo.






Agora Willhelm estava vivo há exatamente 78 anos. Era ainda muito forte e cuidava da barba que cultivava desde quando ela existia. Nada demais mudou no mundo, a mesma guerra, os mesmos problemas, a unica diferença eram as pessoas. Não que os espíritos das pessoas haviam mudado bruscamente, apenas não pertenciam mais aos corpos dessas pessoas.


Em outras palavras, ninguém mais, exceto ele, estava vivo.
E ele não estava sóbrio.


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Mais um conto.