sexta-feira, 20 de maio de 2011

Mistério

A água caía sobre meus ombros,
que carregam o sofrer de um homem comum,
toneladas de labuta, toneladas sem propósito aparente,
aparente, somos aquilo que a alma sente.
Minha alma sente apenas a morte.
Minha alma, mal sente.
Do outro lado da rua, a chuva atingia outra pessoa,
a morte estava em sua alma também.
Sua alma estava na rua, despojada,
molhada, arrebatada por um sentimento
que transcende o corpo, o tempo,
enfim, aquele homem amava...
Amava, não pela primeira vez, não na melhor das vezes
amava como quem captura um pássaro e ele lhe foge as mãos
mas mesmo assim, ainda há a esperança de recuperá-lo.
Ele se perdeu, mas iria se encontrar,
isso é o amar, se encontrar quando estar perdido
eu amei, mas não me encontrei.
Não
na verdade, nunca amei.

Caminho, flutuando, andando, pensando
vivendo, sendo, esquecendo, matando,
difamando, eu caminho. E no meio caminho,
os meios de minha vida, os meios dos meus fins,
vêm a tona, e tudo parece claro, na chuva, o sol me queima por dentro,
não aguento a dor, a dor de saber, o pungir da verdade.
Alcanço a faca mais próxima, acabar com minha vida,
com o sofrer, não queria contemplar o mistério.
Sem sucesso, eu morro, e o mistério se abre como uma flor na primavera,
diante dos meus olhos, tristes, vermelhos, enfim,
mortos.




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