quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Uma cuspidela no meio fio, e um olhar frio até as estrelas, que muito mais sóbrias do que ele, brilhavam ainda embriagadas de luz, o fez perceber que ele precisava de uma conversa. Deu mais alguns passos extravagantes e tortos até quase cair sozinho, em uma rua anônima numa cidade anônima. Aquela rua e aquela cidade estariam prestes a se tornar um deserto pessoal para o nosso homem, ali de pé em meio à rua, que duvidava de todas as coisas nessa terra. Bario Neni Toiro estaria prestes a se tornar um falso João Batista, clamando num deserto apenas dele. Bario Neni Toiro necessitava, todos os dias, mas acabara por perceber naquele momento de doença e inexatidão, que precisava ver-se de outra maneira. E a melhor maneira seria ver-se, mas não havia nenhum espelho naquele momento.
Uma rua violenta e uma conclusão violenta a uma anedota de uma vida inopinadamente comum demais. Bario Neni Toiro viu, no meio da rua uma jovem, mais do que bela, ser assassinada por um grupo de possivelmente adolescentes, que provavelmente abusaram-na.

O homem na rua agora decidiu-se ver como a pior criatura da terra. Por pertencer ao mesmo grupo de assassinos que vira aquele momento. Ele também era um homem e agora havia visto o que estava de errado com Tudo, com ele, com o mundo todo.

Ele estava errado.




domingo, 8 de janeiro de 2012

A Soma de todas as coisas é a vida.

Imortal e imaculado é o Éter que,
acima de nossas cabeças,
às vezes chega ao nossos pulmões humanos e octogenários,
e faz-nos tossir,
confundindo nossas sensações,
dando-nos vida
com um sopro, sob nossos cabelos
e nos derrubando de nossa torre de Babel.

E falamos línguas estrangeiras e excêntricas uns aos outros, e causamos mortes e damos luz à ideias.

Espírito de Época.

"O poeta é o cão de seu tempo."



Espírito de Época.

A inveja e a mordaz preguiça,
o desejo da falta, e a busca pelo vazio,
desalocam e substituem a Cruz,
que num quarto isolado
escreve suas verdades para homens de barba,
uma alva e áspera barba,
que são velhos no peito e eternos jovens na alma.

Anciões que guardam, à lança em mãos,
seu quintal e seu mundo, resignando
e proibindo-se do desconcerto e desterro
desse nosso mundo desnudo.


Mas estes homens morrerão.
Como eu morrerei, desajustado,
por ser um cão magro e de dentes moles,
que guardou o seu tempo,
invejando as eras que nunca contemplou.